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Foto do escritorTiago Meneses

Dialeto – Pandelirium: uma narrativa, ainda que 100% instrumental, de resiliência e superação

Atualizado: 23 de mai.

Nelson Coelho foi duramente atingido pelo vírus Covid-19 no início da pandemia. Sua intenção com o álbum foi documentar sua jornada pessoal ao longo de toda essa provação

Banda Dialeto
Foto: Alex Nascimento


Dialeto é uma banda brasileira de rock progressivo formada em São Paulo em 1987. Com uma sonoridade que mescla elementos do rock progressivo clássico com influências da música folclórica da Europa Oriental – embora nesse disco isso basicamente tenha ficado de fora -, a banda costuma entregar músicas sofisticadas e atmosféricas em uma abordagem que é marcada por longas passagens instrumentais que exploram a técnica dos membros da banda.


O grupo foi fundado por Nelson Coelho (guitarra), Andrei Ivanovic (baixo) e Miguel Angel (bateria), e ao longo dos anos teve diversas mudanças em sua formação. Atualmente conta com Nelson Coelho (guitarras e instrumentos digitais), Gabriel Costa (baixo) e Fred Barley (bateria).



A música da banda é marcada por uma abordagem unicamente instrumental que explora influências do rock progressivo clássico, mas além disso, o grupo também costuma incorpora elementos do jazz fusion. As composições frequentemente apresentam mudanças de tempo abruptas, harmonias ricas e uma estrutura que permite muitas improvisações.


Nelson Coelho foi duramente atingido pelo vírus Covid-19 no início da pandemia. Logo nos primeiros dias, ele apresentou sintomas graves que levaram à sua hospitalização inicial. Sua condição de saúde piorou rapidamente, exigindo várias transferências para diferentes hospitais em busca de cuidados mais especializados. Durante o período em que esteve intubado, Coelho experimentou delírios contínuos - daí o nome do álbum -, alternando entre momentos de lucidez e longos lapsos de consciência. Essas alucinações e confusões mentais tornaram o processo ainda mais angustiante, tanto para ele quanto para seus familiares e amigos.


Nelson Coelho é o principal compositor da banda, e sua intenção com o álbum foi documentar sua jornada pessoal ao longo de toda essa provação. A música serviu como um meio de expressão e um canal para processar as experiências traumáticas vividas. Pandelirium não é apenas um registro artístico, mas também uma narrativa – ainda que 100% instrumental - de resiliência e superação.


The Long Way é uma faixa que começa bastante atmosférica e com texturas etéreas que cria uma sensação de vastidão e exploração cósmica. Conforme a música avança, há uma mudança gradual na sua dinâmica. Elementos mais densos começam a emergir, adicionando uma intensidade crescente. Esta transição é habilmente orquestrada, mantendo a coesão da faixa enquanto ela evolui até explodir em um clímax atingido por meio de uma instrumentação vigorosa.



The Great Geodesic Hall, desde o início, a faixa utiliza uma combinação de tons graves e arranjos minimalistas para criar uma atmosfera tensa e enigmática. As linhas de baixo profundas e os acordes dissonantes estabelecem um clima de mistério. Já próximo da sua parte final, a peça se transforma em um fusion arrebatador. A transição é marcada por uma mudança súbita de ritmo e dinâmica, onde os elementos de rock e jazz se fundem em uma exibição vibrante de virtuosismo.


The Long Way Back é uma faixa a princípio sonolenta – mas não de forma pejorativa. Desde o início, a música estabelece uma atmosfera relaxante, proporcionando um espaço sonoro acolhedor e introspectivo. O baixo conduz a composição com um ritmo constante e tranquilo, enquanto que a guitarra não apenas acrescenta profundidade emocional à faixa, mas também ecoa os sentimentos de tristeza e esperança que acompanham o processo de cura em que o Nelson esteve envolvido. Ainda há espaço para alguns ataques instrumentais tempestuosos diante da bonança instalada.


Waiting For Numbers é uma música que exemplifica a habilidade da Dialeto em criar contrastes surpreendentes que se conectam de forma coesa. Elementos metálicos e jazzísticos se complementam, criando uma experiência auditiva dinâmica e multifacetada. Essa alternância entre a agressividade e suavidade consegue manter a faixa envolvente enquanto suas transições são feitas com enorme precisão, mantendo sempre muita fluidez.


Back Home é a faixa que finaliza o disco, simbolizando a volta para casa após as dificuldades impostas pelo Covid-19. Como o nome sugere, a música representa a culminação de uma jornada árdua e a sensação de alívio e celebração ao retornar ao lar. A faixa possui um arranjo suave que transmite a sensação de calma e recuperação gradual. Elementos de jazz rock são introduzidos de forma sutil, com linhas de baixo relaxadas e linhas de guitarra que evocam um sentimento de introspecção e reflexão. Conforme a música avança, ela começa a ganhar força, adicionando gradualmente camadas de complexidade e energia.



Pandelirium entrega uma musicalidade bastante valiosa. A capacidade da banda em interagir e complementar uns aos outros enquanto cada músico traz sua própria perspectiva e estilo para o conjunto é algo notável. Essa soma de partes distintas resulta em uma experiência musical abrangente, onde cada elemento contribui para a riqueza e a complexidade da música como um todo. No fim, um verdadeiro triunfo artístico e uma homenagem às capacidades transformadoras da música.

 

Pandelirium

Dialeto


Ano: 2024

Gênero: Rock Progressivo

Ouça: "The Great Geodesic Hall", "The Long Way Back", "Back Home"

Pra quem curte: Saecula Saeculorum, Alpha III, Ovrfwrd



 

NOTA DO CRÍTICO: 8,0

 

Ouça "The Long Way Back"


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