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Foto do escritorEduardo Salvalaio

Diabólica retrata bem os riscos da tecnologia extrema, porém é descoordenado ao amarrar suas ideias

Diabólica não conecta bem sua trama; episódios de Black Mirror fizeram isso de forma mais envolvente e eficaz



O cinema sempre explorou como tema os avanços da tecnologia. Muitas produções abordaram como o mundo foi se rendendo a tecnologia, inclusive ditando algumas possibilidades de como seria nosso futuro, a exemplo de robôs e computadores cada vez mais inteligentes. Não foi a toa o espanto que muitos tiveram quando viram o computador HAL-9000 de 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968).

 

Mas nem sempre a tecnologia foi vista como boa mocinha nas telas. Muitas vezes trouxe uma narrativa que serviu de alerta sobre os riscos que ela poderia causar desde a dependência extrema ou o uso errado de seu poder. No gênero terror, ela geralmente chega assustadora,  sobretudo quando ganha vida própria, caso de Geração Proteus (1977) e Tau (2018).

 

O diretor e roteirista Chris Weitz (Sr. & Sra. Smith, 2005) faz de Diabólica (Afraid, 2024) uma outra produção que contempla a tecnologia em nossas vidas. No filme da produtora Blumhouse, Curtis (John Cho) e sua família recebem a proposta de testar um novo dispositivo doméstico chamado Aia. A inteligência artificial de Aia fará de tudo para atender e cuidar das necessidades da família.

 


Weitz faz de seu filme um lugar para explorar a dominação da tecnologia, os vícios e rotinas da modernidade. Ao contrário de Margaux (2022) onde uma casa controlada por IA ganha instintos assassinos, aqui o diretor não faz um Terror abusivo e sanguinário. Ele quer dialogar com o espectador sobre a confiança na IA que nos cerca e até que ponto somos dominados por ela.

 

São muitas cenas e passagens que ligam o filme a nossa própria realidade. Streamings e smartphones servindo como babás de crianças, carro com piloto automático, família conectada por celulares, sistemas intensificados de vigilância. Nomes como ChatGPT, Netflix e Alexa (inclusive é citada como ultrapassada perto de Aia no filme) são frequentemente lembrados na trama.

 

Nos identificamos demais com a família de Curtis. Apesar dessa massiva representação do mundo tecnológico, existe também um lado cuja intenção é mostrar uma parte ainda humana e frágil em nós, sobretudo na figura de Curtis. Ele é um pai que diz para o filho sair um pouco do celular e jogar beisebol com ele no quintal, como também o pai que conversa com a filha adolescente sobre quem ela está namorando. 



Se o filme entrega diversos temas que batem com o cotidiano da vida moderna, infelizmente ele falha em sua proposta de ser um entretenimento marcante. Apesar de um começo interessante em que uma garotinha é atraída para algo na cozinha escura de sua casa, a trama não funciona nos gêneros que deseja abraçar, seja tanto no suspense/terror ou no Sci-fi. Torna-se arrastada e confusa (e olha que a película sequer passa dos 80 minutos).

 

Weitz usa de velhas estratégias para segurar o espectador. O pesadelo no meio da noite,  estranhos que rondam a casa, sustos e reviravoltas. Outro tema que chega a tona é o cyberbullying, entretanto aqui a prática criminosa é usada para garantir uma maior dinâmica em torno de alguns personagens que poderiam terminar apagados dentro do filme.

 

De uma forma geral, o elenco agrada. John Cho como um pai que agora precisa decidir se aceita ou não o dispositivo (ir contra a vontade de sua família ou não?). O veterano Keith Carradine também dá as caras como um chefe totalmente capitalista. E David Dastmalchian convence em mais um papel camaleônico vivendo uma espécie de guru misterioso da tecnologia (o ator surpreendeu como um apresentador de TV em Tarde da Noite Com o Diabo).

 

Diabólica não conecta bem sua trama. Neste aspecto, vários episódios do seriado Black Mirror conseguiram fazer melhor e de forma mais envolvente. Mesmo assim, em sua regularidade, o filme de Weitz pode engrossar a lista de produções que trazem uma conscientização (necessária) sobre o uso da tecnologia em nossas vidas.

 


Diabólica

Afraid


Ano: 2024

Gênero: Terror

Direção: Chris Weitz

Roteiro: Chris Weitz

Elenco: John Cho, Keith Carradine, David Dastmalchian 

País: Estados Unidos

Duração: 123 min


 

NOTA DO CRÍTICO: 6,0

 

Trailer:


 


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