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Foto do escritorMarcello Almeida

David Bowie: O homem que caiu na terra e mudou a música para sempre



“I don’t know where I’m going from here, but I promise it won’t be boring.”

David Bowie
Imagem: Divulgação

Há exatos nove anos, em 10 de janeiro de 2016, o mundo perdeu David Bowie, mas a verdade é que ele nunca nos deixou de fato. Como um cometa que passa uma vez por século, Bowie iluminou a Terra com sua presença única, deixando um rastro de arte, inspiração e emoção que ainda reverbera em nossos corações. Sua partida foi como perder uma estrela-guia, mas sua luz continua nos conduzindo por meio de sua música, de sua visão e de sua coragem em ser, acima de tudo, humano.


Chega a ser difícil falar sobre ele em palavras que não conseguem mensurar sua grandeza e magistralidade. Sua importância para a música vai muito além de meras palavras. Enfim, este texto tem apenas a intenção de homenageá-lo neste dia.


Ao longo de quase cinco décadas, Bowie foi muito mais do que um cantor ou compositor. Ele foi um artista completo, cuja obra refletiu as complexidades da condição humana, questionando questões de identidade, sexualidade e o próprio conceito de “normalidade”. Seus alter egos – de Ziggy Stardust a Thin White Duke – são prova de sua capacidade inata de mesclar música, moda e performance em narrativas revolucionárias.


Ele não fazia apenas música; ele criava universos.


Desde o lançamento de Space Oddity (1969), que introduziu ao mundo Major Tom, Bowie explorou o espaço físico e emocional como metáforas para a solidão e a busca por significado. Aqui já dava para sentir que ele era mais do que um simples artista – ele era um contador de histórias cósmicas. Mas foi com o álbum The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (1972) que ele se consolidou como uma força transformadora, um ser de outro mundo que veio propagar sua música aqui na Terra. Ziggy, um alienígena andrógino e glamouroso, desafiava as normas de gênero e criava um espetáculo único, onde música e teatro se fundiam.



De fato, ele era muito mais; quem sabe, um mago, um mestre em nos transportar para mundos novos e nos fazer sentir parte deles. Cada nova fase de sua carreira era como um renascimento, e nós renascíamos junto com ele.


Pois, em cada nova década, Bowie se transformava. Nos anos 70, ele mergulhou no soul com Young Americans (1975), explorou o experimentalismo no icônico “Berlin Trilogy” – composto por Low (1977), Heroes (1977) e Lodger (1979) – e foi um dos pioneiros no uso do sintetizador como instrumento central no rock. Nos anos 80, Bowie abraçou o pop mainstream com Let’s Dance (1983), provando que sua genialidade podia alcançar as massas sem perder profundidade.


Quem era Bowie? Um espelho da condição humana – brilhante, imperfeito, curioso. Sua coragem em desafiar normas e expectativas ia além da música.

Dueto histórico - Bowie e Mick Jagger - Dancing In The Streets

Bowie não moldou apenas a música; ele transformou a cultura. Sua influência pode ser sentida na moda, no cinema, na arte e até na tecnologia. Bowie foi um dos primeiros artistas a lançar músicas na internet e a criar um provedor de internet próprio, o “BowieNet”, antecipando a revolução digital que mudaria o mercado da música.


Além disso, sua ousadia abriu portas para discussões sobre sexualidade e identidade em uma época em que o tema ainda era tabu. Ao declarar-se bissexual em 1972, ele foi um marco para a comunidade LGBTQIA+, tornando-se um ícone de liberdade e autodescoberta.

Para muitos, Bowie era a voz que dizia: “Você pode ser quem quiser, e não há nada de errado em ser diferente.”


Em seus últimos dias, Bowie nos deu Blackstar (2016), um álbum que se revelou como sua despedida mais pessoal. Cada nota e cada verso carregavam uma sinceridade brutal, como se ele estivesse nos contando um segredo que apenas ele sabia. A tristeza em Lazarus – “Olhe aqui para cima, eu estou no céu” – nos perfura até hoje, porque é impossível não sentir o peso do adeus.



Ao mesmo tempo, Bowie transformou o momento mais inevitável da vida em arte – a morte. Ele nos mostrou que até o fim pode ser um ato de criação, algo belo e poderoso. Em um mundo onde o medo da mortalidade muitas vezes nos paralisa, ele escolheu enfrentá-lo de frente, com dignidade, elegância e aquele brilho eterno que só ele tinha.


David não foi apenas um músico de seu tempo; ele foi um artista de todos os tempos. Seu trabalho continua a inspirar músicos, cineastas, estilistas e sonhadores. Ele nos mostrou que a arte pode ser uma constante reinvenção, um espelho da nossa complexidade e uma celebração do desconhecido. A cada vez que ouvimos “Heroes”, sentimos aquele nó na garganta e a explosão no peito. Porque Bowie nos fez acreditar, nem que fosse por um dia, que todos nós podemos ser heróis. Ele nos mostrou que mesmo os mais imperfeitos podem tocar o infinito.


Bowie não morreu; ele voltou para o lugar ao qual sempre pertenceu: as estrelas. E mesmo daqui, continuaremos ouvindo seu sussurro eterno:


“I don’t know where I’m going from here, but I promise it won’t be boring.”


Essa promessa ele cumpriu – e continuará cumprindo, eternamente.

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