Autofiction é um novo capítulo na história do Suede, um disco que constrói seu próprio impulso emocional
'Autofiction', nono álbum do Suede, chega trazendo doces e nostálgicos lances de urgência, aquele ar harmônico ambientado por uma atmosfera lírica e pela saudade dos anos 90, quando Brett Anderson e cia sonoramente deram início a uma revolução pop britânica, tirando de vez a música Indie inglesa das vertentes do Shoegaze e fusões dance-pop. Inspirados e motivados pelo glam rock de David Bowie e pelo pop romântico e lírico dos Smiths, o Suede desenvolveu uma sonoridade autêntica e sombria com sons de guitarras arrebatadores que soavam densos, sensuais, melódicos e descaradamente ambiciosos.
'Autofiction' traz muito dessa ambientação, dessa nostalgia, um retorno “punk” ao básico, com boas doses de nuances de prazer. As canções transmitem sinceridade, honestidade e sentimentos que pulsam com versos fortes, refrões grandes, grudentos e os vocais de Brett que continuam tão poderosos quanto antes. Um retorno vigoroso e apaixonado de uma banda que transmite aquela sensação palpável de estar se divertindo fazendo aquilo que sabe de melhor.
O Suede conseguiu a incrível façanha de fazer um dos retornos efetivamente impressionante dos últimos anos, como se o grupo estivesse dando continuidade ao estiloso 'Coming Up' de 1996. Uma façanha um tanto ousada de uma banda que voltou tantas vezes antes e sobreviveram a saída do lendário guitarrista Bernard Bluter nos anos 90, e depois realizaram um dos maiores retornos do século 21, quando retornaram com sua primeira música nova em mais de uma década para o estelar 'Bloodsports’ de 2013 e o seu sucessor ‘Night Thoughts’ em 2016.
“She Still Leads Me On” já deixa claro o retorno vigoroso como se o Suede estivesse fazendo algo que soasse mais cru, um pouco mais irritado e um pouco mais punk. Eles sempre foram punks de espírito, mas agora há um verdadeiro vigor em seu som com Brett cantando que ele ainda é um garoto com a vida toda pela frente. Uma faixa indie propulsiva de primeira, uma abertura estelar para um álbum aficionado.
“Personality Disorder” segue a atmosfera do trabalho com um clima desequilibrado e dramático. A canção abre as portas para a envolvente e sedutora “15 Again” com Anderson cantando sobre o abandono juvenil. O tristonho glam rock de “That Boy On The Stage” consegue emocionar e fica ali martelando em sua mente. A faixa constrói uma sonoridade que lembra muito The Smiths.
Oito álbuns na manga, mais de 30 anos de estrada, o Suede consegue se renovar mais uma vez com um disco que transborda sentimentalismo e soa surpreendente a cada faixa.
O ponto alto do disco fica por conta da climática e viajante "Shadow Self", uma faixa que mergulha profundamente no pós-punk com camadas meio que retorcidas e nuances fantasmagóricas.
De fato é quase que impossível encontrar um passo em falso durante a audição de 'Autofiction', são 45 minutos de retorno ao básico, direto, sem apitos e assobios, com um uso assertivo de sintetizadores, ótimos riffs de guitarras, versos líricos, contagiantes e os vocais inconfundíveis de Brett Anderson que atuam perfeitamente em cada faixa.
Este é um álbum do Suede, então você irá encontrar momentos de tristeza, nostalgia, momentos felizes e apaixonados, outros mais densos, enérgicos e com uma urgência transbordando de uma faixa para outra — ouça as perturbadoras 'It's Always The Quiet Ones', e 'Turn Off Your Brain And Yell' que de longe lembra o The Cure. Em suma, 'Autofiction' é o encontro de um grupo voltando para a garagem para brincar com seus instrumentos. Esta é uma banda com um desejo pela vida.
Autofiction
Suede
Lançamento: 16 de setembro de 2022
Gênero: Rock Alternativo, Indie Rock
Ouça: "She Still Leads Me On", "15 Again" e "Shadow Self"
Humor: Sensual, Elegante, Nostálgico
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