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Cinco filmes brasileiros que gritam o que muitos ainda silenciam

O cinema brasileiro tem sido um dos lugares onde a dor se transforma em denúncia, e onde a força encontra espaço para respirar

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

Ser mulher no Brasil é aprender desde cedo a ter medo. A andar com as chaves entre os dedos, a evitar certos caminhos, a falar mais baixo, a suportar o que não deveria ser suportado. É também resistir todos os dias — com o corpo, com a voz, com a arte. O cinema brasileiro tem sido um dos lugares onde a dor se transforma em denúncia, e onde a força encontra espaço para respirar.


Esses cinco filmes não são apenas obras de ficção: são espelhos, feridas abertas e também sementes de mudança. Porque quando uma mulher conta sua história, muitas outras se reconhecem. E isso, por si só, já é um grito.



  1. Era o Hotel Cambridge (2016), de Eliane Caffé

Era o Hotel Cambridge - filme
Imagem: Reprodução

Neste retrato coletivo dos esquecidos, Eliane Caffé costura a luta por moradia com histórias de mulheres que resistem em cada esquina da cidade. O filme acompanha a ocupação do prédio abandonado onde imigrantes, refugiados e trabalhadores sem teto vivem em comunidade. Mas são as mulheres que assumem a linha de frente — e suas histórias, muitas vezes marcadas por abusos, exílios e ameaças, escancaram a violência estrutural que atravessa seus corpos.


A denúncia não vem no grito, mas no cotidiano. O feminicídio aqui é também o extermínio simbólico de quem se nega a ser invisível.




  1. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014), de Daniel Ribeiro

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho  - filme
Imagem: Reprodução

Ainda que não trate diretamente do feminicídio, o filme traz uma figura fundamental: a mãe de Leonardo, protagonista cego que busca independência e autodescoberta. Essa mulher vive o dilema do cuidado, da superproteção, da autonomia e do medo — sentimentos que muitas mães brasileiras enfrentam em um país onde a juventude, especialmente a feminina, está constantemente sob risco.


A presença dela no filme fala de amor, mas também de angústia e da constante sensação de alerta que é imposta às mulheres no Brasil. Uma violência que não é explícita, mas que molda a vida.


Onde ver: Telecine



  1. As Boas Maneiras (2017), de Juliana Rojas e Marco Dutra

As Boas Maneiras (2017), de Juliana Rojas e Marco Dutra
Foto Divulgação/ Rui Poças

Misturando terror, realismo social e fábula, o longa escancara os limites do controle sobre o corpo feminino. Clara, a protagonista, é contratada para cuidar de uma mulher grávida e solitária. O que se desenrola é uma trama de maternidade, desejo e violência que transforma o corpo da mulher em campo de disputa simbólica e literal.


A monstruosidade aqui não é só do horror fantástico — é a sociedade que exige “boas maneiras”, enquanto ignora as dores e os traumas que gestam outras feras. É um filme sobre ciclos de opressão e amor como resistência.


Onde ver: Prime Video






  1. M8 - Quando a Morte Socorre a Vida (2020), de Jeferson De

Foto: Divulgação/Vantoen Pereira JR
Foto: Divulgação/Vantoen Pereira JR

Apesar de o foco do filme ser a desigualdade racial na medicina, há uma personagem que carrega, em silêncio, a tragédia de tantas mães brasileiras: Cida, a mãe do jovem Maurício. Interpretada por Mariana Nunes, ela é a mulher negra que sustenta a casa, protege o filho e convive com o medo diário do desaparecimento. A violência aqui é histórica, é social, é racial — e atravessa especialmente os corpos femininos.


O filme denuncia, com delicadeza e contundência, as estruturas que matam aos poucos — e que quase sempre matam primeiro as mulheres.


Onde ver: Netflix



  1. O Céu de Suely (2006), de Karim Aïnouz

 O Céu de Suely (2006), de Karim Aïnouz

Hermila, a protagonista, volta à sua cidade natal no sertão cearense com o filho no colo e o futuro suspenso. Aos poucos, vamos entendendo as camadas da opressão que a cercam: o abandono, o julgamento, a pobreza, a solidão. Para tentar escapar, ela cria um plano radical: rifar seu próprio corpo. Mas esse gesto não é só desespero — é revolta.


É uma crítica direta a uma sociedade que explora, julga e condena mulheres como ela. O feminicídio aqui é simbólico, mas brutal. Hermila quer viver, mas o mundo ao redor insiste em lembrá-la de que isso tem um preço alto demais.


Onde ver: Netflix




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