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Foto do escritorMarcello Almeida

Charli XCX soa provocativa e desafia o universo da música pop, em tempos de redes sociais, no ousado Brat



Brat reafirma Charli no topo como uma força criativa no pop

Crédito: TMJ Brasil

Ouvir Brat, sexto e novo álbum da multifacetada Charli XCX, é navegar por um mar de sonoridades que elevam o pop atual a outro universo sonoro. E, se a música pop representa um reflexo no espelho de sua era, do seu tempo, o novo trabalho da cantora encapsula perfeitamente essa ânsia e imperfeições geradas por um mundo virtual. Um disco de canções dançantes que transforma essa nossa ansiedade digital em arte memorável; são músicas gostosas de ouvir, ao mesmo tempo que abrem leques de reflexões sobre essa hiperconectividade em nossas vidas.


Ao mesmo tempo, é possível perceber uma certa conectividade de Charli com essa tradição de artistas que desafiam a cena mainstream, como Björk e Arca. Porém, em Brat, ela faz isso de maneira acessível. O álbum é dançante, mas introspectivo; provocador, mas viciante. Ela consegue equilibrar perfeitamente o hedonismo da música pop com uma profundidade que nos convida a pensar.


Entre as 15 faixas do disco, o ouvinte vai navegar por uma onda que explora os limites do hyperpop, do electroclash e até mesmo do punk digital, sempre provocando o público que consome essas contradições e excessos das redes sociais. A faixa "360", que abre o trabalho lembra muito as raves que eram realizadas nos anos 90, com uma melodia catártica e pulsante.



Diferente da música pop atual, consumida hoje em dia em plataformas como TikTok, Brat é um convite marcante para mergulhar na cultura alternativa dos anos 2000, marcada por um período de efervescência criativa que antecedeu a transição para o domínio digital das redes sociais. Sim, você está diante de um álbum que provoca e desafia a estética e os moldes da música pop contemporânea.


Aqui estamos imersos em canções sobre a autoconsciência, ironia e vulnerabilidade, ao mesmo tempo que desafiam as convenções e expectativas dessa nova indústria musical. São músicas que crescem em ritmos frenéticos e autênticos. "Club Classic" provoca um ponto de convergência entre os efeitos da nostalgia e o pop experimental, revelando uma ousadia atraente que simplesmente coloca Charli como uma das vozes mais relevantes do pop contemporâneo.


E não se deixe enganar pela caracterização de um álbum de clube, a propria artista chegou a afirmar isso em entrevistas após o lançamento, algo ilusório, embora tenha algumas faixas alto astral e animadas para clubes, esse trabalho vai muito além disso. O álbum transita entre diferentes humores com uma fluidez impressionante, tanto na parte instrumental quanto liricamente.


As faixas passeiam por extremos emocionais, indo da confiança arrogante à fragilidade insegura, enquanto exploram sentimentos autobiográficos sobre fama, sucesso e autovalorização. Entre esses momentos de introspecção, destaca-se "So I", uma homenagem tocante à artista Sophie, que morreu em 2021 após um trágico acidente. A canção emula uma delicadeza que contrasta com a intensidade do restante do disco, adicionando uma profundidade ainda mais sensível ao trabalho.


O álbum revela uma maturidade em suas letras, algo inédito na carreira da estrela pop, com algumas faixas apresentando um poder narrativo incrível, com a construção de personagens icônicos. Um exemplo claro é "Mean Girls": "Sim, são 2 da manhã, e ela está lá fora em um vestido branco transparente, usando a maquiagem da noite passada. Toda coquete nas fotos com o flash ligado, adora Lana Del Rey em seus AirPods." São detalhes que acrescentam riqueza ao contexto da obra, além de destacar a habilidade da artista em capturar pequenas nuances de personalidade e estilo.


Brat se firmaria como um álbum excepcional mesmo que suas letras fossem inteiramente sobre festas, clubes e diversão. Melodicamente refinado, o trabalho exibe uma produção rica em detalhes. Charli, conhecida por suas colaborações, reúne uma equipe de peso: nomes como Cirkut, George Daniel, El Guincho, Gesaffelstein, Hudson Mohawke e Finn Keane se juntam ao projeto, enquanto AG Cook retorna como parceiro criativo, deixando sua marca com toques brilhantes e contramelodias envolventes em grande parte das faixas.


Os discos de Charli sempre são uma experiência imersiva, mas Brat eleva essa característica. Um exemplo marcante e notável disso é “B2B”, onde sua voz ecoa em loop — “back-back-back” — sobre uma bela nuance de trap, sintetizadores enérgicos e um baixo envolvente, criando um momento que beira uma atmosfera surreal e reafirma sua habilidade e capacidade de transformar o inusitado em música pop de alta qualidade.


"Girl, so Confusing" é outro ponto alto do disco. A canção é cheia de camadas dançantes e sintetizadores hipnóticos, enquanto a letra explora essa temática das complexidades das amizades femininas, principalmente quando elas são embasadas pelo sentimento de competição e insegurança.


Mas venhamos e convenhamos, a inovação e a introspecção nunca são tarefas tão simples, sempre são acompanhadas de uma certa turbulência elegante e emocional. No entanto, é incomum vê-las executadas com tamanha maestria em todos os outros aspectos. Brat reafirma Charli no topo como uma força criativa no pop, consolidando sua posição de pioneira — não que ela tenha vacilado em algum momento.

 
Imagem: Reprodução.

 

Brat

Charli XCX



Ano: 2024

Gênero: Pop, Hyperpop, Electroclash

Ouça: "Girl, so Confusing", "So I""B2b"

Pra quem curte: Lana Del Rey, Sophie, Caroline Polachek

Humor: Enérgico, Provocativo, Animado, Rave


 

NOTA DO CRÍTICO: 9,0

 





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