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Foto do escritorMarcello Almeida

Caetano Veloso, 'Transa' continua atual mesmo após 50 anos, um disco intemporal e poderoso

Um trabalho cultuado na discografia do artista. Inovou ao apresentar uma sonoridade roqueira mesclada com música pop brasileira


Não teria momento mais oportuno para tecer linhas tortas sobre essa obra-prima da música brasileira, hoje (7), Caetano Veloso completa 80 anos de vida. Nada melhor, que comemorar este dia falando sobre um disco clássico e muito importante culturalmente e historicamente para nosso país. Em Transa, Caetano refletiu todo o sentimento recluso da época da Ditadura Militar. Lançado em 1972, o disco foi gravado por Caetano durante seu exílio em Londres, Inglaterra, pouco antes do músico retornar ao Brasil.


Um trabalho que contou com grandes nomes como: Gal Costa, Jards Macalé e Tutti Moreno nos arranjos. Isso ajudou na construção sonora do álbum que mescla grandiosamente a efervescência do rock britânico dos anos 60 e 70 com a Tropicália da cultura brasileira. Uma mistura fabulosa de ritmos e sons, como guitarras agudas, percussão, berimbau e o próprio violão. Portanto, Transa é aquele disco que consegue ir muito além de suas sete faixas divididas por letras em inglês e português. Marca um período de censuras, Ditadura Militar e exílios, e com isso, expressa muito aquela urgência da época de combater todo o autoritarismo imposto pelo regime militar.


O segundo álbum londrino do músico brasileiro soa menos denso, melancólico e sombrio do que o anterior. Transa é um disco humano, feito por emoções e sentimentos de saudade e tristeza. Caetano adota a cultura do sample e do mashup com diversas citações e referências culturais. Um olhar universal sobre o Brasil, e um abraço apertado para as terras da Bahia. Muito desse sentimento da saudade de casa, fica eternizado na faixa de abertura "You Don't Know Me", uma canção que passeia poeticamente pelo rock dos Beatles com a Tropicália e MPB. A mistura do inglês com o português transmite aquele sentimento de estar exilado fora do país e, ao mesmo tempo, querer estar em casa. Uma narrativa discursiva e encomiástica, como se fossem versos feitos para uma Bahia distante e muito perto nas memórias de Veloso, recortes e lembranças nostálgicas de infância. A canção ainda imprime vocais de Gal Costa, que estava em Londres para visitar Caetano e Gilberto Gil.


"Nine Out Of Ten", deságua nas águas correntes da vanguarda e traz um registro histórico. É nela que a palavra "Reggae" aparece pela primeira vez em uma canção brasileira. O mais interessante disso tudo é que a música não é um Reggae em si. O estilo ainda estava se consolidando. A faixa foi inspirada em um movimento musical da Jamaica que acontecia em Londres, no bairro em que Caetano estava morando.


Toda a cultura afro-brasileira oriunda do estado mais negro do Brasil ganha vida em uma canção melódica e nostálgica que nasceu do poema barroco de Gregório de Matos, "Triste Bahia", faixa que atinge seus dez minutos entre citações de afoxé e do samba de roda do Recôncavo, se torna uma das mais belas do registro, a saudade de casa, a falta de perspectiva, a depredação dos sonhos dos brasileiros, as diferentes vozes baianas, vindas de tempos distintos. Tudo isso fica imortalizado na interpretação de Caetano. Um misto de beleza, tristeza e regionalismo atemporal de profunda psicodelia.


"Mora na Filosofia" é uma canção composta por Monsueto Menezes e Arnaldo Passos, em 1955, e ganhou uma roupagem, interpretação e arranjos fabulosos na voz de Caetano. Compatibilizar prazer e sofrimento? Será que dá para harmonizar essas duas expressões? Uma faixa reflexiva e potente. Não podemos esquecer da linda e sentimental "It's Long Way" onde mais uma vez Veloso mescla o português com o inglês e cita versos de A Lenda do Abaeté (Dorival Caymmi, 1948) e do samba Consolação (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1963).


Transa definitivamente foi o disco que abriu as portas para a música brasileira e a obra de Caetano para esse que vos escreve. 50 anos depois, esse disco segue intemporal, um dos marcos mais importantes na discografia desse artista que entre ambiguidades, sintetizou o Brasil em toda sua totalidade. Daqueles discos que acontecem de grandes encontros de artistas em um momento histórico e específico. Se torna praticamente impossível repetir o que foi feito aqui.

 

Transa

Caetano Veloso


Lançamento: 1972

Gênero: Rock, MPB, Tropicália

Ouça: "You Don't Know Me", "Triste Bahia" e "Mora na Filosofia"

Humor: Exuberante, Intemporal, Inovador


 

NOTA DO CRÍTICO: 10

 

SPOTIFY:


 

Veja o clipe de "Mora na Filosofia


 

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