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Foto do escritorTiago Meneses

Big Big Train - The Like of Us: Composições habilmente elaboradas e uma execução coletiva de alta qualidade que se unem para criar algo grandioso

Atualizado: 8 de mar.

Um álbum onde o comprometimento com a qualidade musical ressoa em cada nota.

Big Big Train
Foto: Massimo Goina


Dentro da comunidade de entusiastas da música progressiva, é inevitável que o novo álbum do Big Big Train, intitulado The Like of Us, se torne uma das peças mais comentadas, dado todo o contexto que o envolve. Vale mencionar que o álbum anterior, Welcome to the Planet, apesar de ter sido lançado de forma póstuma a morte do vocalista David Longdon, falecido em 20 de novembro de 2021, obviamente, foi gravado enquanto ele ainda fazia parte da banda, acrescentando uma dimensão única à sua recepção e apreciação.


A relevância de Longdon no Big Big Train tornou-se evidente desde o seu disco de estreia com o grupo, The Underfall Yard. O músico deixou claro que sua presença na banda não se limitava apenas à função de vocalista, sendo um verdadeiro multi-instrumentista e compositor de mão cheia. Através de sua voz distintamente rouca, Longdon conferiu uma alma notável à música da banda, especialmente em projetos centrados em narrativas e histórias.


Quando Alberto Bravin foi revelado como o novo vocalista do Big Big Train, trazendo consigo sua experiência prévia como vocalista da banda italiana Premiata Forneria Marconi, a transição não implicou simplesmente entrar em estúdio para gravar o próximo álbum. Era essencial submeter-se a uma prova de fogo, avaliando a aceitação do público em apresentações ao vivo com Bravin na formação e perceber a extensão do acolhimento que ele receberia - ou não.



A resposta positiva e maciça dos fãs, muito provavelmente, desempenhou um papel crucial em proporcionar à banda a confiança necessária para trabalhar de forma mais tranquila em novos materiais. A aceitação calorosa do público não apenas validou a escolha de Bravin como o novo vocalista, mas também contribuiu para um ambiente propício à criação de novas músicas, permitindo que a banda explorasse novas direções com uma base sólida de apoio dos seus seguidores.


Há uma semelhança marcante entre a entrada de Bravin na banda e a chegada de Longdon no que diz respeito ao papel ativo que ambos assumiram. Assim como Longdon, Bravin não expressou o desejo de ser apenas um intérprete em sua estreia, ele contribuiu significativamente para a composição, tendo seu nome associado a cinco das oito faixas do álbum. Além disso, Bravin desempenhou um papel adicional ao co-mixar o disco, trabalhando ao lado do engenheiro Rob Aubrey, um colaborador de longa data da banda.


Essa participação proativa de Bravin na criação do álbum não apenas destaca sua versatilidade como músico, mas também solidifica sua posição como um membro integral e envolvido na dinâmica criativa do Big Big Train. Sua contribuição não se limita apenas à interpretação vocal, mas se estende à elaboração musical e à produção, demonstrando um compromisso sólido com o processo artístico da banda.


Greg Spawton revelou como foi o seu primeiro contato com Bravin: Eu entrei em contato com Alberto puramente como vocalista, não como compositor ou amigo, mas ele se tornou todas essas coisas. Eu sempre preciso de alguém para trocar ideias, e pela segunda vez em minha vida, depois de David, tenho outro companheiro musical. Encontrar Alberto, que respeita as tradições da banda, mas também traz suas próprias ideias e energia incrível, foi um milagre. Sou incrivelmente abençoado.



Bravin, por sua vez, adiciona: Eu não tinha ideia se os caras estariam interessados nas outras coisas que eu sentia que era capaz de fazer, mas felizmente, eles estavam, e tudo progrediu de maneira tão natural. Assim como Greg, eu também procurei um parceiro musical durante toda a minha vida. Tenho orgulho dos dois álbuns que fiz com a Premiata Forneria Marconi, mas, nunca tive a oportunidade de fazer algo assim. Juntamente com esse grupo extraordinário de pessoas, acredito que fizemos um belo álbum.


Spawton ainda revela que inicialmente chegou a ficar em dúvida se continuaria ou não com a banda: Inicialmente, não estava certo se continuar após o falecimento de Longdon era a coisa certa a se fazer, embora David e eu nos conhecêssemos tão bem que realmente tivemos uma conversa durante a qual ele me disse que, caso algo acontecesse com ele, a banda deveria continuar. O Big Big Train foi uma grande parte da vida musical de David e era o desejo dele que as músicas que ele escreveu continuassem sendo ouvidas. Nunca esqueceremos David, pois é óbvio que ele é uma grande parte da nossa história.


Atualmente o Big Big Train conta em sua formação com, Greg Spawton (baixo, violão de 12 cordas e Mellotron), Alberto Bravin (Vocais principais, violão, piano, teclados e arranjo de metais), - Nick D'Virgilio (bateria e percussão, vocais, violão de 12 cordas, vibrafone e arranjos de metais), Rikard Sjöblom (guitarra, órgão, teclados e vocais), Dave Foster (guitarra e vocais, ), Clare Lindley (violino, vocais e arranjo de cordas) e Oskar Holldorff (piano, órgão, sintetizadores, teclados, vocais e arranjos de corda).


Light Left In The Day é a peça de abertura do álbum. Mesmo sendo quase 100% instrumental, ainda possui letras o suficiente para transmitir uma mensagem que inspira coragem e um senso de perseverança, além de resistência diante de desafios ou dificuldades. Começa por meio de uma sonoridade serena, mas que não demora muito até que mude de direção, entregando a partir disso, uma instrumentação mais pesada e sinfônica que é fortalecida com algumas pinceladas de metais. Se existia ainda alguma chispa que seja de desconfiança em relação ao que a banda entregaria depois de passar por um período tão turbulento, digo com felicidade no coração, o Big Big Train segue firme com toda a sua essência e apogeu.



Oblivion foi o primeiro single lançado pela banda. Liricamente aborda a desilusão, introspecção e busca por algo mais significativo na vida, entrando em temas complexos relacionados à luta interna, decepções e a busca por significado na vida. Talvez a ideia de primeiro single tenha surgido pelo fato dela soar, de certa forma, familiar. É uma peça de rock até mesmo direta, mas ainda assim, possui guitarras dinâmicas e ao mesmo tempo complexas e seção rítmica precisa, enquanto isso, os vocais de Bravin ecoam um tipo de entrega que é fundamental para que as músicas do Big Big Train funcionem como tem que ser.


Beneath the Masts, com mais de 17 minutos é o épico do álbum. Uma narrativa poética e evocativa, dividida em diferentes partes, cada uma oferecendo uma perspectiva ou momento na história. Logo em seus primeiros segundos é possível perceber que estamos diante de uma peça que segue os moldes clássicos da banda e vai crescendo de forma gradual, não havendo necessariamente alguém que se destaque – embora o trabalho de Clare Lindley no violino impressione em alguns pontos -, mas sim, um grupo de músicos sem vaidade e que se preocupam em soar brilhantemente enquanto conjunto. Devo destacar também a entrega de Bravin com sua performance maravilhosa em uma faixa que é explorado temas como jornada da vida, transição, despedida e reflexão sobre o tempo que passou. A linguagem poética unida as imagens vívidas desenhadas pela instrumentação contribuem para criar uma atmosfera emocional e envolvente.


Skates On transmite uma mensagem sobre viver plenamente o presente, abraçar as alegrias da vida e avançar com resiliência, inclusive, quando formos confrontados pelas incertezas que marcam o nosso caminho. Não soa impressionante como as anteriores, algo que é inclusive muito bom, pois deixa o ouvinte recuperar o fôlego. Inicialmente, tem uma leveza acústica e depois se desenvolve dentro de uma harmonia requintada. A mensagem deixada aqui é positiva, de incentivo a valorização da vida e a busca por momentos significativos, além da superação de desafios e a apreciação do presente.


Miramare, como o nome sugere, a banda faz uma alusão ao castelo de mesmo nome situado na cidade de Trieste (cidade de Bravin). Por meio de uma narrativa muito bem desenvolvida, a banda conta uma história que aborda viagem, separação, desafios, despedidas e sacrifício, tudo sempre muito bem ilustrado através de harmonias que evocam uma atmosfera cativante. Bravin mais uma vez destaca-se como um intérprete excepcional e adorável com sua habilidade singular. Enquanto isso, a banda demonstra virtuosidade instrumental, entregando um desempenho primoroso. Tirando o solo de excelência e envolvente de violino – e outro de guitarra que soa mais veemente - a banda novamente – ou como costuma fazer na maioria das vezes - troca um testemunho voltado para habilidades individuais por um direcionamento onde todo o grupo se destaca dentro de passagens instrumentais cheias de energia e sofisticação.


Love Is The Light é uma balada lindíssima, com certeza uma das melhores de todo o catálogo do Big Big Train. Aqui a banda explora temas como luta, perseverança e a redescoberta do amor. Tocante, dramática e de uma sensibilidade incrível, os vocais soam profundos, enquanto que instrumentalmente o destaque fica com os belos floreios de violino e o solo de guitarra, que dentro de sua simplicidade consegue entregar algo realmente emocional e que parece abraçar o ouvinte. Cada nota e acorde são como pinceladas cuidadosas, delineando um quadro sonoro que não só envolve os ouvidos, mas também toca a alma. Uma verdadeira mensagem de enfrentamento das adversidades, busca por amor e renovação, destacando que o amor pode ser uma fonte de luz e força – como o próprio título da música deixa claro.


Bookmarks, de forma muito emotiva, parece narrar uma jornada ao longo do tempo, cheia de lembranças, amizades duradouras e desafios. Quando os primeiros versos são cantados por Bravin é impossível não lembrar de Longdon. De clima pastoral, teclados, mellotron e a voz desempenham papéis cruciais, revelando-se como elementos essenciais para a construção de uma atmosfera silenciosa, quase hipnótica. Conforme se desenvolve, cria-se na música uma aura melancólica e nostálgica, com vocais elegantes e bem harmonizados acompanhados por uma instrumentação bastante rica, destacando-se a graciosidade das guitarras e violino. Explorando temas universais como amizade, tempo, perda e recomeço, a banda proporciona uma narrativa poética e emotiva que reflete sobre a jornada da vida.


Last Eleven marca o final desta extraordinária jornada musical. Foi a primeira composição da banda após a triste partida de Longdon, originalmente destinada a ser parte de um álbum intitulado Shallow Enders, um projeto que por razões diversas não se concretizou. Possui uma alternância entre momentos graves e delicados, soando como uma espécie de reflexo das nuances da própria vida. A peça se destaca por meio dos seus desenvolvimentos melódicos intricados, incorporando mudanças de compasso e “curvas fechadas” inesperadas que enriquecem a experiência auditiva com diversas cadências e reviravoltas. A banda parece estar mandando um recado para eles mesmos, transmitindo uma mensagem motivacional sobre resiliência, encontrar força na união, superar adversidades e redefinir o próprio valor, ou seja, tudo que eles tiveram que fazer para continuar seguindo com a banda após a morte de Longdon.



Com maestria, o Big Big Train prossegue mantendo habilmente a tradição de explorar brilhantemente os cantos mais acessíveis da música progressiva. Um disco que se destaca como uma obra melódica magnífica, onde composições notavelmente elaboradas e uma execução coletiva de alta qualidade se abraçam para criar algo verdadeiramente grandioso. O comprometimento com a qualidade musical ressoa em cada nota, mostrando a capacidade do grupo de evoluir e manter sua relevância ao longo do tempo. The Like of Us soa como uma carta de amor em que o grupo honra o seu passado e dedica aos fãs de longa data, ao mesmo tempo em que se revela como uma estação de embarque convidativa para novos apreciadores, enquanto aponta para um futuro intenso e cheio de promessas.

 

The Likes of Us

Big Big Train


Ano: 2024

Gênero: Rock Progressivo

Ouça: "Beneath the Masts", "Love Is The Light", "Bookmarks"

Humor: Pastoral, Alegre, Positivo

Pra quem curte: Genesis (era Peter Gabriel) Steve Hackett, Anthony Phillips


 

NOTA DO CRÍTICO: 10

 

Ouça "Love Is The Light"





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