BelHell (contração de Belém com “hell”, inferno em inglês) é o livro do escritor paraense Edyr Augusto, lançado pela Editora Boitempo. Com frases curtas, ácidas e, ao mesmo tempo, sagazes, a dinâmica da escrita de Edyr não deixa o leitor parar, trazendo crueza em sua abordagem. O livro conta histórias que se entrelaçam de forma urgente.
Uma, Belém (PA) seduzida pela violência e poluída pela impunidade é apresentada aqui, adquirindo um sentido figurado como um espelho ou retrato do Brasil na totalidade. A explanação se constrói a partir do universo de jogos de azar proibidos no país. Elementos que agem como um alicerce para a criação de histórias e personagens que se cruzam em meio a assassinatos em série, sexo, dinheiro, policiais tentando fazer a coisa certa, policiais que mudam de lado, o amor e poder, e a formação de milícias que são temas constantes em jornais e noticiários.
A escrita e linguagem de Edyr o colocam como um dos mais importantes escritores da literatura contemporânea. Ele sabe usar como ninguém o vocabulário local do tipo “pau na testa”, “carro prata”, “rubi” e “na mutuca”. Usa da sua experiência de jornalista, publicitário e poeta para construir um universo inesperado.
A trama não abre espaço para mocinhos e mocinhas nem para heróis ou heroínas. Algo que transforma sua linguagem em uma jornada de mistérios, inquietações e agonia. Os detalhes são muito bem descritos, ultrapassando o ponto do desassossego.
BelHell chega após cinco anos do aclamado e elogiado Pssica (2015), entretanto desta vez o escritor faz uso mais exacerbado da violência. Aqui o leitor se depara com prostitutas, politica, corrupção, obsessão, tráfico e assassinatos, tudo isso descrito de forma meticulosa e emergente: “Passou o fio cirúrgico no pescoço. Seu João era mais baixo e fraco. Nem lutou tanto. Cagou, mas foi só água, pouco. Ele que se esporrou todo ao sentir aquele corpo amolecer, a alma fugir. Cheiro de sangue, esperma, merda”.
As histórias dissertam sobre a rotina e a vida de personagens que se diferenciam um dos outros: um serial killer que sente prazer e tem orgasmos ao estrangular suas vítimas; a garota pobre que enriquece jogando pôquer profissional; a anã dona de um bordel, um órfão que administra o cassino; e uma copeira que descobre ser lésbica. A vida de cada um deles se entrelaça em uma, Belém caótica esquecida por muitos.
Apesar de o estado do Pará ser rico, sua riqueza é destinada a uma minoria. A classe alta é individualista e egoísta, e nada é feito pensando no coletivo. O livro denuncia e descreve isso de forma minuciosa. Com sua atmosfera sombria e personagens fictícios que se confundem com a realidade, fazem das lendas urbanas da capital paraense um enunciado de Liev Tolstói de que quanto mais a literatura for fiel à própria aldeia, mais universal será.
Edyr Augusto nasceu em Belém, Pará, em 1954. Sua estreia como romancista se deu em 1998, com Os Éguas. Em 2001 lançou Moscow, seu segundo romance. Depois, em 2004, Casa de Caba, o livro de contos Um Sol para Cada Um (2008), Selva Concreta (2012) e Pssica (2015), todos publicados pela Boitempo. Sua obra foi traduzida na Inglaterra, Peru, México e França, onde recebeu, em 2015, o Prêmio Caméléon.
Ficha Técnica
Título: Belhell Temáticas: Thriller, Policial Editora: Boitempo Autor: Edyr Augusto Ano: 2020 (1ª Edição) Páginas: 152 Idioma: Português Dimensões: 20,8 x 13,6 cm
Texto publicado originalmente no site Urge!
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