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Foto do escritorMarcello Almeida

Babygirl é um thriller sobre poder, desejos e submissão, cujo trunfo é Nicole Kidman

Atualizado: há 2 dias



Qual o papel do erotismo no cinema? Uma forma de expressão complexa, uma linguagem dos anseios, vontades e desejos que determinam as distâncias de um relacionamento?

Imagem: Reprodução.

Dirigido por Halina Reijin (Morte, Morte, Morte, 2022), Babygirl é um dos filmes mais intrigantes e ousados do ano, explorando desejo, poder e a dualidade entre imagem pública e privada. O filme foi aclamado e premiado em Veneza e obteve grande destaque em festivais como Toronto, o longa trás Nicole Kidman no centro de uma narrativa que revisita elementos dos thrillers eróticos, mas com uma abordagem moderna e psicológica, afastando-se dos julgamentos morais tão comuns apresentados no gênero nos anos 90.


Kidman interpreta Romy, uma CEO exemplar em um ambiente corporativo competitivo, promovida como modelo de sucesso para outras mulheres. Com uma carreira impecável, uma família aparentemente perfeita e um marido atencioso (protagonizado por Antonio Banderas), Romy é a personificação de alguém que “tem tudo”. Contudo, ao longo da trama fica claro que ela enfrenta desejos reprimidos e insatisfações que não consegue compartilhar. A chegada de Samuel (Harris Dickinson), um jovem enigmático e ambicioso, quebra a estabilidade de sua vida, e ela acaba encontrando nele coisas que há muito tempo não sentia.


O filme constrói uma inversão intrigante de poder: no ambiente corporativo, Romy detém toda a autoridade e é admirada por todos; porém, no espaço íntimo, a dinâmica muda, e Samuel desafia sua autoridade de maneiras inesperadas. Reijin evita clichês como “os opostos que se atraem” e, em vez disso, explora a complexidade de como duas pessoas tão diferentes podem se conectar, entrelaçando desejo, submissão e poder.


Um dos pontos atraentes de Babygirl é sua decisão de colocar o erotismo como ferramenta narrativa para discutir escolhas e dilemas psicológicos, em vez de usá-lo como mero artifício estético ou provocativo. A obra revisa tradições do cinema erótico, como Instinto Selvagem (1992) e Proposta Indecente (1993), mas sem a carga moralizante ou o excesso de cenas explícitas. Não que elas faltem aqui, mas são entregues na medida certa. A câmera de Reijin está mais interessada nos gestos, olhares e silêncios, permitindo que o público mergulhe nas emoções, sentimentos e desejos conflitantes de Romy.



Foto: Reprodução Youtube

Além disso, o filme toca em uma discussão secundária sobre Inteligência Artificial. Para renovar sua empresa, Romy precisa adotar uma postura analítica e fria, que contrasta com seus desejos reprimidos e sua vida pessoal. A narrativa equilibra bem essa dualidade, embora escolhas dramáticas mais profundas fiquem em segundo plano para preservar o foco no impacto psicológico e na tensão sexual.


Dickinson entrega uma atuação convincente como Samuel, um jovem inexperiente que, embora submisso no ambiente corporativo, assume o controle no espaço íntimo. No entanto, ele acaba funcionando mais como um catalisador para o desenvolvimento de Romy, tornando-se um personagem secundário em termos de relevância narrativa.


O grande trunfo de Babygirl é mesmo Nicole Kidman. Sua performance captura a essência de uma mulher dividida entre sua posição pública e seus desejos mais íntimos, aqueles privados, os quais seus amigos, família e colegas de trabalho não sabem. O sorriso que ela exibe para os colegas é quase uma máscara que esconde suas angústias e fragilidades. A atriz sustenta a complexidade de sua personagem com uma força magnética e sedutora, tornando-se o centro e a base narrativa do filme.


Apesar de ser um thriller estimulante que mantém o público intrigado, Babygirl não entrega uma conclusão totalmente satisfatória: muitas pontas soltas, laços mal resolvidos e Dickinson poderia ter sido melhor aproveitado na trama. Essa escolha, porém, parece intencional, deixando o espectador com reflexões sobre julgamento, moralidade e o preço das decisões. É um filme que desconstrói arquétipos e provoca discussões, mas também mantém uma certa frieza narrativa, que pode não agradar a todos. Eu confesso que tive que rever alguns trechos novamente antes de escrever essa crítica.



Ainda assim, Halina Reijin demonstra maturidade como cineasta, criando uma obra que equilibra tensão, desejo, submissão, poder, complexidade das relações pessoais e profissionais. Além de tudo, Babygirl é um longa que consolida Kidman como uma das grandes atrizes de sua geração e coloca Reijin no radar como uma das diretoras mais promissoras do cinema contemporâneo.

 

Babygirl


Ano produção: 2024

Gênero: Drama, Thriller erótico

Direção: Halina Reijin

Roteiro: Halina Reijin

Elenco: Nicole Kidman, Antonio Banderas, Harris Dickinson

Classificação: 18 anos

País: Estados Unidos

Duração: 114 min


 

NOTA DO CRÍTICO: 7,0

 

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