Panek não trabalha de forma ágil. Mesmo assim, está longe de entregar uma narrativa monótona
Thrillers policiais guiada por crimes enigmáticos que precisam ser desvendados nunca saem de moda. Filão bastante apreciado pelo cinema europeu, algumas produções acertaram em cheio quando abordaram esse gênero, caso do espanhol (O Guardião Invisível, 2017). Em outras ocasiões, o resultado ficou aquém do esperado resultando num filme regular, a exemplo do austríaco Sem Rastro (2023).
Presente no catálogo da Netflix, As Cores do Mal: Vermelho (Kolory zla. Czerwien, 2024) captura esse universo. Novamente, o espectador ficará diante de um misterioso crime brutal de difícil resolução. O filme polonês dirigido por Adrian Panek é baseado no romance policial de sucesso Czerwien (2019) da escritora Małgorzata Oliwia Sobczak.
Monika Bogucka (Zofia Jastrzebska) aparece morta com requintes de crueldade numa praia. Com o mínimo de pistas deixadas e praticamente sem apresentar algum suspeito, o promotor Leopold Bilski (Jakub Gierszal) precisa desvendar o crime. Entretanto, para isso enfrentará a prepotência de outras autoridades, além de entrar num terreno perigoso que envolve máfia e assassinatos (como outra mulher que foi assassinada da mesma forma 15 anos antes).
Panek não trabalha de forma ágil. Mesmo assim, está longe de entregar uma narrativa monótona. Prefere diálogos com muito sentimentalismo, expondo bastante a índole dos personagens da trama. Explora os assassinatos não de forma banal ou generalizada, mas para acentuar emoções humanas como medos, culpas e remorsos, sobretudo após eventos trágicos.
Mesmo assim, algumas passagens acabam tensas e até mesmo desconfortáveis (no sentido de focar a maldade humana de uma forma crua e real, não distante da nossa realidade), a exemplo da cena da tortura que certamente pode soar pesada para pessoas mais sensíveis.
O diretor consegue fazer com que uma simples cena onde o personagem é dopado e precisa fugir de seus perseguidores seja tensa e carregada de emoções. Isso sem apelar para absurdos cinematográficos ou violência gratuita.
Trabalhando com duas linhas temporais, o espectador pode acompanhar a trajetória complexa de Leopold para solucionar o caso, ou, por meio de flashbacks, entrar na vida conturbada de Monika dias antes dela morrer.
Embora o filme de Panek use ingredientes básicos e bastante conhecidos dentro desse gênero, como a narrativa é construída importa muito e faz com que sigamos adiante até os instantes finais. O filme sabe pegar as características de um mundo corrupto, sórdido, machista e dominado pelo dinheiro onde geralmente a justiça não encontra seu trunfo facilmente.
Difícil não se compadecer de Helena (Maja Ostaszewska em ótima interpretação), a mãe de Monika, lutando ao lado de Leopold para achar a verdade sobre a morte de sua filha. Sem apelar pelo melodramático, estamos diante de uma mãe combalida que agora sente a falta de um simples abraço da filha.
As revelações que vão surgindo realmente impactam nossa visão acerca de alguns personagens e fatos que julgávamos conhecer. Sabemos muito bem que filmes desse gênero são repletos de reviravoltas. A verdade, de forma completa, chegará apenas no final, vibrante e chocante, bem impiedosa, contudo necessária. Difícil a gente depois do filme não desejar abraçar nossos filhos ou pais.
As Cores do Mal: Vermelho
Kolory Zla: Czerwien
Ano: 2024
Gênero: Thriller
Direção: Adrian Panek
Roteiro: Adrian Panek, Lukasz M. Maciejewski
Elenco: Zofia Jastrzebska, Maja Ostaszewska, Jakub Gierszal
País: Polônia
Duração: 90 min
NOTA DO CRÍTICO: 7,0
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