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Arnaldo Antunes brilha em “Novo Mundo”: um disco poético, inquieto e cheio de grandes parcerias

Novo Mundo é mais do que um disco: é uma experiência sensorial que mistura poesia, crítica, introspecção e musicalidade com elegância e ousadia

Arnaldo Antunes
Foto: Leo Aversa com concepção visual de Batman Zavareze / Divulgação

Desde que surgiu como integrante da icônica banda Titãs em 1981, Arnaldo Antunes consolidou-se como um dos maiores compositores da música brasileira. Com uma carreira marcada pelo trânsito entre o rock, a MPB e o pop, ele também se destaca por sua poesia singular — influenciada por elementos como o romantismo, o concretismo, a filosofia e a estética pós-moderna.



Após quatro anos desde o lançamento de Lágrimas no Mar (2021), Arnaldo retorna aos estúdios com Novo Mundo, seu 14º álbum solo de estúdio — um dos trabalhos mais inspirados e criativos de sua trajetória. Com 12 faixas e 39 minutos de duração, o disco reúne parcerias de peso, letras profundas, melodias envolventes e uma sonoridade acolhedora, reafirmando sua identidade artística como inquieta e transformadora.


Produzido por Pupillo (ex-Nação Zumbi), Novo Mundo traz uma poderosa banda de apoio formada por Pupilo, Kiko Dinucci, Betão Aguiar e Vitor Araújo. A capa, em preto e branco, mostra Arnaldo sob um feixe de luz — uma imagem simbólica que já antecipa a beleza introspectiva do projeto.


A faixa de abertura, que também dá nome ao álbum, conta com a participação marcante do rapper baiano Vandal e versos emprestados da canção “Mundanoh”. A fusão entre rap, rock e MPB cria uma atmosfera vibrante que convida o ouvinte a refletir sobre presente e futuro com intensidade e lirismo.


O álbum também conta com participações especiais marcantes, e uma das mais notáveis é a do lendário David Byrne, ex-vocalista da icônica banda de New Wave Talking Heads. O encontro entre Arnaldo Antunes e Byrne acontece em duas faixas irresistíveis: “Body Corpo” e “Não Dá Pra Ficar Parado Aí Na Porta”.


Ambas as músicas apresentam uma sonoridade dançante, envolvente e criativa, como se os Titãs e os Talking Heads tivessem se encontrado no auge dos anos 1980 para uma jam session histórica. Porém, “Body Corpo” se destaca mais por ter uma produção bem elaborada e uma vibe que remete a uma homenagem a Caetano Veloso, misturando influências brasileiras com elementos globais de forma ousada e sofisticada.


Vale lembrar que Arnaldo Antunes deixou os Titãs em 1992, enquanto os Talking Heads encerraram suas atividades em 1991, quando David Byrne seguiu em carreira solo. Esse encontro simbólico entre dois mestres da experimentação musical só reforça o poder criativo e atemporal de Novo Mundo.



Um dos grandes destaques da cena alternativa e indie da música brasileira atual, Ana Frango Elétrico brilha na faixa “Para Não Falar Mal”. Ao lado de Arnaldo, ela protagoniza um dueto inusitado e cativante, marcado pela suavidade dos arranjos e pela delicadeza dos vocais. A canção se destaca pelo minimalismo elegante e pelos instrumentais leves, criando uma atmosfera intimista e moderna, que convida o ouvinte a mergulhar nesse encontro musical repleto de sensibilidade e originalidade.


Marisa Monte, parceira de longa data de Antunes nos memoráveis Tribalistas, ressurge com brilho ao seu lado na belíssima “Sou Só”. A faixa é uma balada romântica e sofisticada, com arranjos delicados que evocam os momentos clássicos do trio, mas ao mesmo tempo revelam uma identidade única. O reencontro musical entre os dois artistas soa maduro, sensível e especial, selando uma amizade artística que segue rendendo frutos emocionantes na música brasileira.


A faixa “É Primeiro de Janeiro” carrega a poesia característica de Arnaldo Antunes envolta em melodias suaves que flertam com o reggae, criando uma atmosfera de paz e contemplação. Já “Tire o Seu Passado da Frente” se destaca como uma das mais potentes do disco. Com uma pegada mais pesada, marcada por riffs de rock, a canção mergulha em reflexões sobre traumas, memórias e a urgência de lidar com o passado para entender o presente — especialmente num cenário tão politizado como o que vivemos em 2025.


A faixa “Viu, Mãe?” se destaca pelo groove funkeado e pela parceria sensível entre Arnaldo Antunes e o saudoso Erasmo Carlos. A letra é um tributo emocionante à figura materna, exaltando o carinho, o cuidado e a presença marcante da mãe na construção afetiva da vida. Já “Tanta Pressa Pra Quê?”, que encerra o disco, é uma canção filosófica com arranjos eletroacústicos sofisticados. Ela propõe uma reflexão sobre o ritmo acelerado da vida moderna e convida o ouvinte a desacelerar — encerrando o álbum com leveza e profundidade.



Arnaldo Antunes reafirma sua relevância como um dos pensadores culturais mais importantes do Brasil. Novo Mundo é mais do que um disco: é uma experiência sensorial que mistura poesia, crítica, introspecção e musicalidade com elegância e ousadia. Suas colaborações intergeracionais mostram que, mesmo com o passar do tempo, sua arte continua inquieta, fértil e absolutamente necessária.


Seja na poesia ou na música, Arnaldo Antunes é sempre essencial. E Novo Mundo é mais uma prova disso.

 

 

Novo Mundo

Arnaldo Antunes


Ano: 2025

Artista: Arnaldo Antunes

Gênero: MPB, Rock, Pop Rock

Para quem gosta de: Titãs e Marisa Monte

Ouça: "Tire O Seu Passado Da Frente", "Sou Só" e "Body Corpo"

 

NOTA DO CRÍTICO: 8,5

 

Ouça "Tire o Seu Passado Da Frente"


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