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Foto do escritorEduardo Salvalaio

Apaches é um caprichado retrato da Belle Époque embora não tenha trama totalmente equilibrada

Apaches prefere mostrar um lado bem suburbano de Paris, dando mais ênfase para a pobreza e sujeira.

Foto: Amazon Prime Video


Apaches foi uma gangue de arruaceiros, assaltantes e malfeitores que predominou nas ruas de Paris durante a Belle Époque, propriamente entre os anos 1890 e 1905. O grupo ficou conhecido pela violência que praticavam, utilizando métodos de tortura, assassinatos e extorsão. As vítimas eram compostas por pessoas ligadas à burguesia.


Foi pensando nesse episódio da História que o diretor francês Romain Quirot chega ao seu segundo longa metragem, Apaches. Seguindo por uma narrativa com muitos elementos em comum, a película nos leva a ver algumas semelhanças com a série Peaky Blinders (2013-2022) e o filme Gangues de Nova Iorque (2002) de Martin Scorsese.



O filme traz uma mistura de gêneros que passam por Ação, Romance, Drama e também tem seus contornos de Faroeste moderno. E o tema maior aqui está relacionado com a vingança. De uma forma geral, trabalha bastante com os efeitos e as consequências da busca por vingança, uma temática, inclusive, que é uma das mais exploradas no Cinema até hoje.



Um grupo de crianças passa a rotina assaltando ricos nas ruas de Paris. Mas elas precisam prestar contas com a gangue local, os Apaches, liderada pelo influente Jésus (Niels Schneider). Num desses assaltos, as coisas não saem como planejado e uma das crianças, Billie (Chloé Peillex), é obrigada a presenciar um evento trágico e traumático.


O início do filme é bem contagiante. O elenco infantil conquista prontamente, inclusive com a garota Billie narrando de forma melancólica sobre sua vida: desde sua vida nas ruas até o momento que se torna adulta, e isso engloba desde suas estratégias de roubo até caracterizar detalhadamente os integrantes da gangue.

Apesar de crianças ligadas ao crime, não tem como não se comover com a pobreza que os órfãos levam. As crianças se abrigam na Igreja e tem um sonho de conhecer a América. Bela e tocante cena tendo como paisagem o céu noturno e iluminado da cidade.


A atmosfera da chegada de um novo Século com o progresso em transformação é bem capturada para a tela. Novas invenções chegando, o Cinema surgindo, automóveis e trens estão em maior número, telefonia e eletricidade mais avançados. Dentro de uma narrativa que mostra a trajetória de Billie em capítulos (desde sua infância até seus planos de vingança), interessante ver como o filme se preocupou com alguns elementos históricos.



Os figurinos são caprichados. Os integrantes da sociedade da época foram bem retratados. Destaque fica para algumas cenas realçadas por uma bela fotografia e pelos cenários que apresentam ao fundo como a imponente Torre Eiffel. Mesmo quando a violência está presente, a exemplo da cena dentro do Cinema, o efeito é suavizado tendo a tela em preto e branco do filme na tela contrastando com o sangue da vítima.


A trilha sonora também não pode ficar esquecida. Bem variada, engloba tanto canções bem antigas e até desconhecidas como algumas de artistas renomados que viraram sucesso mundial. Temos tanto a música 'Duo Des Fleurs' que o compositor francês Léo Delibes criou em 1883 como ‘I Wanna Be Your Dog’ (1969) do The Stooges e ‘Lollipop’ (1958) de The Chordettes. E tudo combina bem.


Apaches prefere mostrar um lado bem suburbano de Paris, dando mais ênfase para a pobreza e sujeira. Deixa o chique de lado. Cafés e cabarés dão lugar a ambientes clandestinos, escondidos da polícia. Geralmente bares onde as gangues armam seus planos e, junto com prostitutas, se divertem pela noite. Um lugar onde confiança e lealdade são testados por meio de perigosos testes de roleta russa.

Mas, se os recursos técnicos do filme agradam e são bem firmes, o mesmo não vale para sua narrativa como um todo. Com um começo tão promissor, a segunda metade resvala e faz a trama perder o intuito que tinha planejado para Billie, agora adulta (numa boa interpretação de Alice Isaaz).


Cena do filme Apaches
Imagem: Reprodução

Para um filme que não faz questão de esconder os atos de violência de uma temida gangue, era de se esperar um choque mais abrupto conforme a própria gangue ficasse mais temida. A emoção e a sensibilidade de certas cenas vão descartando uma ação mais dinâmica que estávamos aguardando.



Dialogando com sentimentos como traição, lealdade, vingança e até mesmo sobre os caminhos que tomamos na vida, o espectador pode não gostar do resultado final. Ou esperar mais.


Apaches acaba sendo mais um eficiente retrato de uma época da sociedade francesa do que propriamente um filme memorável, apesar do elenco interessante (sendo que muitos dos atores são novatos em filmes), da boa caracterização de época e das temáticas que aborda.

 

Apaches

Apaches


Ano: 2023

País: França

Direção: Romain Quirot

Elenco: Niels Schneider, Chloé Peillex, Alice Isaaz

Duração: 1h 35min


 

NOTA DO CRÍTICO: 6,5

 

Trailer do filme:




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