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Anora: Um impactante retrato da desilusão dos contos de fadas modernos na visão de Sean Baker

Foto do escritor: alexandre.tiago209alexandre.tiago209


Em um mundo cada vez mais acelerado, o filme nos convida a abraçar as imperfeições, tanto das pessoas quanto das circunstâncias, desmistificando a ideia de perfeição

Divulgação/Neon.
Divulgação/Neon.

Você, leitor, já assistiu ao icônico filme Uma Linda Mulher? Lançado em 1990, essa comédia romântica estadunidense é um dos clássicos do gênero, estrelado brilhantemente por Julia Roberts e Richard Gere. A produção narra a história de Vivian, uma bela prostituta que trabalha no Hollywood Boulevard, e Edward, um rico empresário que cruza seu caminho.

 

O enredo se desenrola quando Edward contrata Vivian para acompanhá-lo em compromissos sociais por uma semana. Durante esse período, ela passa por uma transformação, tornando-se uma mulher elegante e sofisticada, enquanto os dois acabam se envolvendo emocionalmente. A relação, que começa como uma transação comercial, evolui para um romance genuíno, subvertendo o típico vínculo entre patrão e empregado.

 

Essa narrativa captura perfeitamente o conceito de um "conto de fadas moderno". No entanto, ela também levanta reflexões importantes: até que ponto relacionamentos baseados em dinheiro, status, conforto e estabilidade podem prosperar? Sem sinceridade e fidelidade, o final feliz pode se tornar um desafio, e a linha entre sonho e realidade torna-se cada vez mais tênue.


Imagem: Divulgação
Imagem: Divulgação

 Sean Baker, aclamado cineasta estadunidense conhecido por obras como Projeto Flórida (2017) e Tangerine (2015), retorna com uma abordagem ousada e reflexiva no tocante Anora. Neste filme, Baker desconstrói o conceito de "contos de fadas modernos", apresentando uma narrativa que combina drama, comédia e romance em um ritmo dinâmico e envolvente.



No filme, conhecemos a jovem Anora, uma profissional do sexo do Brooklyn que vê sua vida mudar ao conhecer Ivan, filho de um poderoso oligarca russo. Os dois se apaixonam e decidem se casar, mas o que parecia ser um conto de fadas moderno rapidamente se transforma em um campo de batalha emocional.

 

Quando a notícia do casamento chega à Rússia, os pais de Ivan partem imediatamente para Nova York com o objetivo de anular a união. O enredo revela não apenas os desafios de um relacionamento improvável, mas também as tensões culturais, sociais e familiares que ameaçam destruir o amor do casal.


É essencial destacar a versatilidade de Baker no filme. Além de dirigir, ele também assina o roteiro, atua como produtor e assume a edição da obra. Essa abordagem multifuncional não é novidade para o cineasta, que já adotou a mesma estratégia em seus aclamados trabalhos anteriores.

 

Em Anora, Sean demonstra sua habilidade em absorver e reinterpretar referências de ilustres cineastas europeus, como Wim Wenders, Jean-Luc Godard e Federico Fellini. Esses mestres são conhecidos por sua maestria no uso da linguagem visual e cromática para transmitir ideias complexas, e Baker utiliza essas influências para criar uma obra que vai além do entretenimento, propondo reflexões profundas sobre a vida e os relacionamentos.

 

Além de desconstruir o conceito de contos de fadas modernos, o diretor também desmistifica o "sonho americano". Ao contrastar cenários de Las Vegas e Nova York, ele expõe tanto as oportunidades quanto os desafios dessas cidades, revelando que, por trás das aparências glamorosas, existem dificuldades que nem todos conseguem superar.

 

Essa abordagem estende-se aos personagens, que, ao idealizarem suas vidas como contos de fadas, esquecem que cada indivíduo carrega imperfeições. O filme ressalta que um relacionamento genuíno não se constrói sobre ilusões de perfeição, mas sobre o esforço mútuo de compreender e aceitar as falhas de ambos. Assim, Baker desconstrói narrativas como as de Cinderela e Rapunzel, mostrando que finais felizes idealizados não correspondem à complexidade da realidade.

 

Mikey Madison tem se consolidado como um dos grandes talentos de sua geração em Hollywood. Com menos de 30 anos, a atriz já demonstrou sua versatilidade em produções como a série Better Things e os filmes Era uma Vez em... Hollywood e Pânico 5. Em Anora, Madison entrega uma performance de protagonismo absoluto, encarnando uma personagem complexa e multifacetada.


Foto: Universal Pictures / Divulgação / CP
Foto: Universal Pictures / Divulgação / CP

Sua interpretação confere à personagem momentos hilários, românticos, sensuais e dramáticos, sempre com uma empatia que aproxima o público de seus sonhos, pensamentos e dilemas emocionais. Essa atuação eleva Madison ao patamar de uma das atrizes mais promissoras de sua geração. Sem dúvidas, Anora marca um dos pontos mais altos de sua carreira no cinema até agora.

 

Mark Eydelshteyn, jovem ator russo de 22 anos, impressiona com uma performance propositalmente provocante no papel de Ivan. Ele encarna o personagem com uma arrogância mimada que desperta antipatia no público, especialmente na maneira como lida com dinheiro e demonstra sentimentos ambíguos em relação ao seu relacionamento com Anora.

 

Esse contraste entre afeto e imaturidade dá profundidade ao personagem e destaca a habilidade de Eydelshteyn em explorar nuances complexas. Mesmo sendo jovem, Eydelshteyn apresenta uma atuação marcante e promissora, deixando claro que ele é um talento a ser observado no futuro do cinema.

 

Yura Borisov, ator russo de 32 anos, entrega uma performance notável. Interpretando Igor, um capanga inicialmente contratado para cuidar de Ivan, Borisov vai além de seu papel inicial, ganhando destaque como protagonista ao construir uma conexão intensa e emocional com Anora. Com uma atuação madura, envolvente e profundamente emocionante, Borisov traz à tela dilemas sociais e reflexões complexas que enriquecem o enredo. Seu desempenho carrega camadas de profundidade que tornam Igor um personagem fascinante, capaz de cativar e provocar reflexões no público.

 

Além dos protagonistas, Anora conta com um elenco de apoio que eleva ainda mais a sua qualidade narrativa. Nomes como Karren Karagulian, Vache Tovmasyan, Aleksei Serebryakov, Darya Ekamasova e Ella Rubin brilham em seus respectivos papéis, trazendo uma diversidade de emoções que vão desde momentos cômicos e leves até os mais intensos e reflexivos.

 

Pode-se concluir que o longa é, uma obra inesquecível. Com um elenco talentoso, uma narrativa profundamente impactante, uma escrita envolvente e uma direção que entrega um dos melhores trabalhos da carreira de Baker.


Ao desconstruir os contos de fadas modernos, Sean ressalta valores essenciais como amor, empatia, compreensão, aceitação e liberdade. Em um mundo cada vez mais acelerado, o filme nos convida a abraçar as imperfeições, tanto das pessoas quanto das circunstâncias, desmistificando a ideia de perfeição. Essa reflexão sobre as nuances da vida torna Anora uma produção especial e relevante, que merece ser amplamente assistida e compartilhada.

 

 

Anora


Ano: 2024

País: Estados Unidos

Duração: 139 minutos

Direção: Sean Baker

Gênero: Comédia Dramática

Elenco: Mikey Madison, Mark Eydelshteyn, Yura Borisov

 

NOTA DO CRÍTICO: 8,5

 

Trailer:


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