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Ainda Estou Aqui: um retrato emocionante de liberdade, amor e família durante a Ditadura Militar no Brasil

Este filme é um tributo à memória e um lembrete poderoso do valor da empatia, da sensibilidade e da solidariedade

O filme brasileiro Ainda Estou Aqui (2024), dirigido por Walter Salles, traz à tona uma época sombria da história brasileira ao abordar a vida da família Paiva durante a Ditadura Militar no Brasil no início dos 1970. Nesse período, o país estava sob o governo autoritário de Emílio Garrastazu Médici, marcado pelo AI-5, uma medida que legalizava práticas de tortura, assassinatos e perseguições contra aqueles que se opunham ao regime.

Em meio a esse cenário, a história apresenta a família de Rubens Paiva, ex-deputado paulista e opositor ao regime, que foi preso, torturado e desaparecido. A trama narra a luta dos familiares para se reerguerem e resistirem em um ambiente repleto de opressão e luto, ao mesmo tempo em que explora temas como política, liberdade e amor.

É preciso informar que a morte de Rubens Paiva foi um dos casos investigados pela Comissão Nacional da Verdade, que revelou que ele integra a lista de 434 desaparecidos e 1.800 torturados pelo governo. Reconhecida oficialmente somente 40 anos depois, essa tragédia é uma peça fundamental para entender os personagens e a complexidade narrativa que o filme aborda de maneira intensa e sensível.

Walter Salles, cineasta conhecido por sua amizade com a família Paiva, traz ao filme uma visão pessoal e respeitosa. Inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens Paiva, Salles oferece uma abordagem intimista e artística, proporcionando ao espectador uma experiência que, ao mesmo tempo, é delicada e poderosa. Ao estilo de Central do Brasil, o diretor equilibra o peso da tragédia histórica com uma atmosfera que mistura leveza e intensidade, transportando o público a um cenário de dor e esperança.

No elenco, há destaque para Selton Mello e Fernanda Torres, que interpretam Rubens e Eunice Paiva, respectivamente. Selton, famoso por sua versatilidade em diversos gêneros em filmes como "O Auto da Compadecida", "Lisbela e o Prisioneiro" e "O Palhaço", entrega aqui uma das performances mais impactantes de sua carreira com uma atuação forte e impactante, enquanto Fernanda, com sua atuação visceral e comovente, confere profundidade e força a Eunice, transformando sua personagem em um pilar emocional da trama e traz, para a sua carreira, uma de suas melhores performances como atriz.

O longa emociona ao apresentar a fase idosa de Eunice, Fernanda Montenegro faz essa fase da vida da personagem e ela enriquece o filme com uma interpretação sensível e delicada, acrescentando ainda mais dimensão e profundidade ao enredo.

Outros membros do elenco, como Charles Fricks, Camila Márdila, Dan Stulbach e Maeve Jinkings, também brilham em papéis essenciais que sustentam a trama e conectam o público ao núcleo principal. Eles interpretam figuras reais como o empresário Fernando Gasparian e o político Baby Bocayuva, trazendo autenticidade à história e mostrando o impacto das redes de apoio em tempos de adversidade.

Os filhos de Rubens, apresentados por variados atores em diferentes fases da vida, exibem com talento a pureza, a rebeldia e a maturidade adquiridas ao longo do tempo, refletindo o processo de crescimento e adaptação a um mundo que, muitas vezes, parece desmoronar.

A trilha sonora é outro ponto forte do filme, com músicas que aprofundam a atmosfera da narrativa. Com canções como "É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo" de Erasmo Carlos, "Fora da Ordem" de Caetano Veloso, "Petit Pays" de Cesária Évora e "Acuã" de Gal Costa, a seleção musical traz um equilíbrio entre a MPB e hits internacionais que intensificam cada cena, acrescentando ainda mais poesia à história

Diversos filmes já exploraram o período da Ditadura Militar no Brasil em diversas formas e pontos de vista, mas em "Ainda Estou Aqui", consegue ser uma obra emocionante e imprescindível. Com um elenco admirável, uma narrativa impactante e uma trilha sonora excepcional, Walter Salles apresenta um filme que faz um convite à reflexão sobre o Brasil de ontem e de hoje.

Exaltando temas como amor, liberdade e democracia, a produção mostra a importância de resistir e reinventar-se, mesmo diante da opressão. Este filme é um tributo à memória e um lembrete poderoso do valor da empatia, da sensibilidade e da solidariedade. Certamente, o longa ocupa um lugar especial entre as produções nacionais mais marcantes dos últimos anos.