Um clássico indie intemporal.
Lançada em 2007 no icônico álbum Oracular Spectacular, “Kids” do MGMT é muito mais do que um hit dançante que marcou a geração indie dos anos 2000. Por trás de seu ritmo vibrante e sintetizadores nostálgicos, a música revela um tema profundo e sombrio: a transição da infância para a vida adulta e a perda da inocência.
Neste texto, vamos explorar como “Kids” se tornou um marco cultural ao unir melodia e mensagem de forma genial e discutir o impacto que a música continua exercendo nos dias de hoje.
A melodia de “Kids” foi inspirada em uma música que Andrew VanWyngarden, um dos membros do MGMT, compôs durante uma viagem à Índia. Ele estava explorando diferentes sonoridades e ficou fascinado com a mistura de música tradicional e moderna. Isso influenciou o estilo melódico e a estrutura da música, que, embora tenha uma vibe eletrônica, também remete a uma sensação atemporal.
A letra: Um aviso sobre a vida adulta
À primeira vista, a letra de “Kids” pode parecer simples, mas carrega uma crítica contundente à sociedade e à dura realidade que acompanha o amadurecimento. Trechos como: “You were a child, crawling on your knees toward it / Making mama so proud, but your voice is too loud”.
Remetem à infância, uma fase de inocência e liberdade, mas também insinuam a pressão dos pais e da sociedade para que a criança atenda expectativas. Já o refrão:
“Control yourself, take only what you need from it”.
Traz um conselho quase desesperado para sobreviver em um mundo que exige autocontrole e equilíbrio emocional, sugerindo como a vida adulta é permeada por responsabilidades que nos afastam do lado mais puro da vida.
O vídeo: O terror do crescimento
O videoclipe de “Kids” amplifica a mensagem sombria da música. Ele mostra uma criança assustada por monstros grotescos que simbolizam os medos e traumas que surgem ao longo da vida.
Embora tenha tons caricatos, o clipe é desconfortável e serve como uma metáfora visual para o impacto que o mundo pode ter em uma mente jovem e impressionável. À medida que crescemos, esses “monstros” podem assumir diferentes formas: medos, responsabilidades ou até a desconexão emocional típica da vida adulta.
Curiosamente, o contraste entre a melodia animada e as imagens perturbadoras do clipe reforça o conceito central da música: o amadurecimento é tão inevitável quanto assustador.
O clipe foi inspirado em uma ideia do diretor Ray Tintori, que queria explorar o medo infantil de maneira distorcida. Ao contrário de muitos clipes em que a inocência da criança é preservada, “Kids” brinca com a ideia de que o processo de amadurecimento é uma transição que envolve não só descobertas, mas também medos e transformações perturbadoras.
A estética visual do clipe também foi influenciada pelo filme The Holy Mountain (1973), de Alejandro Jodorowsky. O filme é conhecido por suas imagens surreais e alegóricas, e muitos dos elementos visualmente inquietantes do clipe de “Kids” podem ser ligados a essa obra do cinema, que também aborda a relação entre inocência, amadurecimento e os horrores do mundo adulto.
A produção: Entre o nostálgico e o visionário
O som da faixa é uma mistura perfeita de nostalgia e futurismo, com sintetizadores que remetem aos anos 80 e uma batida que captura o espírito indie-pop dos anos 2000. Essa abordagem sonora cria um ambiente sonhador, mas também inquietante, que reflete o tema da música: a infância pode parecer mágica quando lembrada, mas o processo de crescer é inevitavelmente cheio de desafios.
O som da música é distorcido de maneira intencional para criar uma sensação de confusão e transição. A técnica chamada “detuning” foi aplicada aos sintetizadores para dar um toque mais esquisito e “fora de lugar” à música, refletindo a ideia de desorientação emocional que a letra transmite sobre o crescimento.
Embora seja uma música que é comumente associada ao estilo eletrônico e indie, “Kids” traz elementos do rock psicodélico dos anos 60 e até da era disco dos anos 70. O uso de sintetizadores e o ritmo pulsante lembram a produção de discos daquela época, e a energia vibrante da canção reflete as experimentações sonoras daquela era.
Os integrantes do MGMT, Andrew VanWyngarden e Ben Goldwasser, já afirmaram que a música nasceu como uma brincadeira, mas acabou adquirindo um significado muito maior com o passar do tempo, ressoando profundamente com os fãs.
O impacto na cena pop alternativa
Desde seu lançamento, “Kids” transcendeu seu status de música indie para se tornar um hino geracional. É uma faixa que não apenas diverte, mas também provoca reflexão sobre os desafios do crescimento e as pressões do mundo moderno.
Além disso, a música continua sendo usada em comerciais, filmes e séries, perpetuando seu apelo e relevância ao longo dos anos. O tema universal da perda da inocência garante que ela continue tocando públicos de diferentes idades e experiências.
“Kids” é a prova de que a música pop pode ser muito mais do que entretenimento; pode ser uma ferramenta para discutir questões profundas e universais. Com uma combinação única de melodia cativante e mensagem introspectiva, o MGMT conseguiu capturar a essência da transição para a vida adulta de uma forma que poucos artistas alcançaram.
Se você ainda não mergulhou na genialidade de “Kids”, este é o momento. E para os que já conhecem, revisitar a música é sempre uma oportunidade de enxergá-la sob novas perspectivas.
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