Nesta lista, buscamos dar luz a sete mulheres que construíram ou ainda constroem a história da nossa música de forma intensa, apaixonada

A música brasileira é um território vasto, cheio de vozes potentes que muitas vezes ecoam à margem do mainstream. Enquanto alguns nomes brilham sob os holofotes, há artistas fundamentais que seguem resistindo nas brechas, sustentando tradições, desafiando padrões e criando caminhos únicos.
Nesta lista, buscamos dar luz a sete mulheres que construíram ou ainda constroem a história da nossa música de forma intensa, apaixonada e muitas vezes invisível aos olhos do grande público.
São vozes que resistem ao esquecimento, carregando nas canções a força de suas vivências, a poesia das ruas, a pulsação das raízes culturais do Brasil. Conhecê-las é mergulhar em universos pouco explorados, mas essenciais para entender a complexidade e a riqueza da nossa música.
Cida Moreira — A intensidade teatral da MPB

Pianista, cantora e atriz, Cida Moreira tem uma carreira marcada pela intensidade e originalidade. Seu álbum Summertime (1981) trouxe releituras de standards de jazz e MPB com uma teatralidade rara. Dona de uma voz poderosa e interpretação visceral, Cida se destaca pela habilidade de transitar entre a música brasileira e a música de cabaré com profundidade.
Apesar de seu impacto, é lembrada mais nos circuitos alternativos, longe do reconhecimento massivo que seu talento merece.
Inezita Barroso — Guardiã das raízes sertanejas

Conhecida como “a rainha da música caipira”, Inezita Barroso foi uma pesquisadora incansável das raízes sertanejas brasileiras. Cantora, atriz e apresentadora, sua voz resgatou modas de viola e canções tradicionais que poderiam se perder no tempo.
No entanto, seu legado é muitas vezes reduzido ao programa “Viola, Minha Viola”, enquanto sua importância como uma das primeiras mulheres a se firmar no universo sertanejo é subestimada.
Dona Onete — A diva do carimbó chamegado

Fenômeno tardio da música brasileira, Dona Onete começou a gravar discos após os 70 anos, mas sua história com a música vem de muito antes. Compositora e pesquisadora das tradições amazônicas, Onete mistura carimbó, banguê e lundu com letras sensuais e debochadas.
Mesmo com certo reconhecimento recente, seu nome ainda passa despercebido para muitos, enquanto ela segue como guardiã e inventora da cultura paraense.
Maria Alcina — A irreverência que resiste ao tempo

Dona de uma irreverência explosiva, Maria Alcina marcou os anos 70 com sua interpretação de “Fio Maravilha”, de Jorge Ben. Sua presença de palco e estilo excêntrico desafiaram padrões, mas o mainstream a empurrou para a marginalidade cultural.
Alcina segue reinventando sua carreira no underground, explorando sonoridades eletrônicas e mantendo uma postura de resistência artística.
Selma do Coco — O eco das tradições nordestinas

Representante da cultura popular nordestina, Selma do Coco cantou e tocou coco de roda até seus últimos anos de vida. Sua voz ecoava as tradições da periferia de Olinda, preservando cantigas ancestrais com uma alegria quase infantil.
Mesmo sendo referência para estudiosos da música popular, Selma permanece uma figura pouco conhecida fora do Nordeste, símbolo de uma cultura que o mercado tenta transformar em folclore distante.
Tetê Espíndola — A voz que dialoga com a natureza

Com uma voz inconfundível de timbre agudo, Tetê Espíndola explorou a música regional de Mato Grosso do Sul e flertou com a música experimental. Seu maior sucesso, “Escrito nas Estrelas” (1985), marcou época, mas seu mergulho nas sonoridades da natureza e na música pantaneira vão além do hit.
Tetê segue na contramão do mainstream, fazendo de sua voz um instrumento raro e delicado.
Alzira E — A poesia inventiva da Vanguarda Paulista

Parceira de Itamar Assumpção e integrante da chamada Vanguarda Paulista, Alzira E é uma artista multifacetada, passeando pelo rock, MPB e música experimental. Sua voz marcante e composições cheias de poesia atravessam décadas sem jamais ceder às fórmulas fáceis do mercado.
Ainda que tenha colaborado com grandes nomes, como Ney Matogrosso e Zélia Duncan, Alzira é uma figura pouco conhecida para além dos circuitos alternativos — uma injustiça diante de sua inventividade e contribuição à música brasileira.
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