Todas unidas pelo talento inquestionável e pela relevância histórica

A música brasileira tem um panteão de vozes femininas que ajudaram a moldar o que somos enquanto cultura. Algumas já foram lembradas nas nossas postagens anteriores, mas a lista de mulheres que revolucionaram a nossa música é vasta. Aqui estão mais sete nomes essenciais, com trajetórias que vão do samba ao experimental, do underground ao mainstream, todas unidas pelo talento inquestionável e pela relevância histórica.
Zeze Motta – A intérprete que incendiou a MPB

Zeze Motta não é apenas uma das maiores atrizes do Brasil, mas também uma cantora que traduziu na voz a força e a ancestralidade da música negra brasileira. Sua carreira musical, muitas vezes ofuscada pelo sucesso no cinema e na TV, é um verdadeiro manifesto.
Seu disco de estreia, Zeze Motta (1978), trouxe interpretações arrebatadoras de canções de Luiz Melodia, Jards Macalé e Rita Lee, além do hino “Senhora Liberdade”. Uma mulher que fez do canto um ato político, abrindo caminhos para gerações de artistas negros na MPB.
Ana Mazzotti – A revolucionária subestimada do jazz-funk brasileiro

Ana Mazzotti foi uma visionária. Cantora, pianista, arranjadora e compositora, fez um som que dialogava com a vanguarda do jazz-funk internacional nos anos 70, mas que acabou sendo injustamente esquecido no Brasil.
Seu álbum Ninguem Vai Me Segurar (1974) soa tão moderno hoje quanto na época do lançamento, com grooves sofisticados e uma voz delicada, mas poderosa. Redescoberta recentemente por colecionadores de vinil e DJs ao redor do mundo, Ana Mazzotti finalmente começa a ter o reconhecimento que sempre mereceu.
Nana Caymmi – A sofisticação da melancolia brasileira

Filha de Dorival Caymmi, Nana poderia ter vivido à sombra do pai e dos irmãos famosos, mas escolheu trilhar um caminho próprio. Sua voz profunda e sua interpretação refinada fizeram dela uma das maiores cantoras da MPB, com álbuns emblemáticos como Nana (1979) e Mudança dos Ventos (1980).
Dona de um timbre raro e de uma entrega dramática que corta a alma, Naná é a grande rainha da melancolia na música brasileira, traduzindo em canto as dores e delícias do amor.
Patrícia Bastos – A voz do Norte que conquistou o Brasil

A música brasileira é gigante e diversa, e Patrícia Bastos é uma das vozes que ajudam a quebrar a hegemonia do eixo Rio-São Paulo. Vinda do Amapá, ela mistura ritmos amazônicos com MPB e música afro-indígena, criando um som único.
Álbuns como Zulusa (2013) e Batom Bacaba (2016) são verdadeiras viagens pelo Norte do Brasil, com uma riqueza rítmica e poética que merecem muito mais holofotes. Patrícia é a prova de que nossa música ainda tem territórios incríveis a serem explorados.
Alaíde Costa – A resistência e a delicadeza da Bossa Nova

Alaíde Costa é um nome que jamais deveria ser esquecido quando se fala da Bossa Nova. Dona de um timbre delicado e de uma musicalidade sofisticada, ela foi uma das primeiras mulheres a interpretar o novo som que surgia no final dos anos 50. Mas, por ser uma mulher negra em um movimento dominado por homens brancos, nunca teve o reconhecimento merecido.
Mesmo assim, construiu uma trajetória impecável, gravando álbuns sublimes e colaborando com gigantes como Tom Jobim e Milton Nascimento. O disco E o Tempo Agora Quer Voar (2024), lançado aos 89 anos, é a prova definitiva de que seu talento atravessa décadas sem perder a relevância.
Lia de Itamaracá – A guardiã do maracatu e da ciranda

Lia de Itamaracá é uma entidade viva da cultura brasileira. Cantora, compositora e cirandeira, ela é o maior nome da ciranda em Pernambuco, um ritmo tradicional que ganhou projeção nacional graças à sua voz hipnotizante.
Desde os anos 70, Lia mantém viva a tradição da música nordestina, mesclando ancestralidade e modernidade. Seu álbum Ciranda de Ritmos (2008) ajudou a apresentar seu trabalho para uma nova geração, provando que seu canto é atemporal. Aos 81 anos, segue sendo um dos maiores símbolos da cultura popular brasileira.
Cássia Eller – A visceralidade e o rock na veia

Cássia Eller não era apenas uma cantora, era um fenômeno. Dona de uma das vozes mais potentes da música brasileira, transitava entre o rock, a MPB e o blues com uma autenticidade que poucas conseguiram igualar.
Do grunge à bossa nova, de Cazuza a Cartola, Cássia interpretava tudo como se fosse dela. Seu álbum Acústico MTV (2001) se tornou um dos maiores sucessos da história da série, mas sua discografia vai muito além. Uma mulher que quebrou padrões, viveu intensamente e deixou uma saudade que nunca diminui.
O Brasil é delas
Essas sete artistas são apenas mais um capítulo de uma história ainda maior. A música brasileira é marcada por mulheres que desafiaram padrões, experimentaram novos sons e abriram caminhos para quem veio depois. Algumas foram reconhecidas em vida, outras só ganharam espaço recentemente, mas todas são fundamentais para entender a riqueza infinita do nosso som.
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