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Foto do escritorMarcello Almeida

50 discos: A música que nos sustentou em 2024



Aprecie sem moderação


Entre reviravoltas e desafios, 2024 foi um ano em que a música provou, mais uma vez, seu poder transformador. Em tempos de incerteza, ela se manteve como um refúgio, um abraço invisível que nos embala, inspira e, muitas vezes, nos mantém em pé. Este foi um ano que nos presenteou com uma enxurrada de lançamentos marcantes, reafirmando que, mesmo em dias difíceis, a música e seu poder de cura existe e sempre existirá.


Foi o ano em que The Cure nos levou de volta ao universo sombrio e hipnótico de Robert Smith com Songs of a Lost World, um disco que não só carrega o peso da saudade, mas também renova a intensidade emocional que sempre caracterizou a banda. Betty Gibbons, uma força única na música alternativa, também brilhou com um trabalho que capturou a essência do momento, trazendo canções que ecoam em nossos corações. E tivemos Kim Dell, ex-integrante dos Pixies, que desafiou expectativas com o visceral e empolgante Nobody Loves You More, um álbum que combina coragem artística e entrega emocional, mostrando que a música pode ser tão feroz quanto libertadora.


Este ano, mais do que nunca, reafirmamos que a música é combustível para a alma. Ela nos consola, nos une e nos lembra de que há beleza no mundo, mesmo quando o cenário parece cinza. É com esse espírito que selecionamos os melhores discos internacionais de 2024: para celebrar os artistas que marcaram o nosso ano e nos ofereceram trilhas sonoras inesquecíveis para os altos e baixos da jornada.


Gosto muito da frase que o Jeff Tweedy disse em seu livro de memórias 'Vamos Nessa (Para Podermos Voltar)… ': "A música. Se você a mantiver perto, ninguém pode tirá-la de você. Ela existe. A parte bonita sempre existiu e sempre continuará existindo."


Vamos juntos reviver essa magia?


Um Feliz Natal e Próspero Ano Novo a todos. Que a música continue abundante em nossas vidas!


(Marcello Almeida)

 

Colaboradores desta lista: Alexandre Tiago, Eduardo Salvalaio e Marcello Almeida

 

50. ​​ IDLES – 'TANGK'

Imagem: Reprodução/Bandcamp

No quinto álbum de sua carreira, o Idles apresenta uma evolução musical e emocional, explorando novas sonoridades que se distanciam de suas raízes punk e abraçam um rock mais expansivo e sofisticado.


Conhecida por sua abordagem intensa e direta, a banda britânica Idles dá um passo em uma direção diferente em seu novo álbum. Com menos agitação e mais foco no canto, o disco começa com suaves acordes de piano e encerra com um breve solo de saxofone, destacando uma abordagem mais contemplativa.


Entre os destaques, a vibrante faixa Dancer celebra o prazer do movimento corporal, contando com os vocais de apoio de James Murphy e Nancy Whang, do LCD Soundsystem. Já Grace, com sua batida lenta e reverberações de sintetizador, remete à atmosfera da icônica Someone Great do mesmo grupo.


Essa nova fase marca uma transição significativa para o Idles, que nos três primeiros álbuns se destacou pelo som bruto e incendiário alimentado por guitarras potentes e letras contra xenofobia e masculinidade tóxica. Agora, a banda se reinventa, explorando maior profundidade musical e emocional, enquanto mantém seu compromisso com a autenticidade.




  1. NewDad - Madra

Imagem: Reprodução/Spotify

NewDad reinventa o shoegaze com frescor contemporâneo em sua estreia. O quarteto de Galway estreia com um álbum que mistura a energia do shoegaze clássico com uma sensibilidade pop contemporânea, criando uma sonoridade que homenageia o passado enquanto se projeta para o futuro.


Em seu primeiro álbum, a banda explora uma onda sonora rica, que combina o resgate do shoegaze com influências de Pixies, Breeders, The Cure e New Order. As guitarras atmosféricas e vocais cativantes evocam nostalgia enquanto ganham um brilho de produção moderno que conecta os estilos de 30 anos atrás a uma nova geração de ouvintes.


O grupo mostra sua versatilidade em faixas como Angel, com sua sensibilidade pop, e In My Head, que lembra os refrões sonhadores do Lush. Já Sickly Sweet mistura influências vintage do Garbage com letras sobre um romance intenso, enquanto Dream of Me evoca o charme de Wolf Alice. A épica Nosebleed se destaca por criar uma identidade musical única, revelando uma banda confiante em experimentar.


A vocalista Julie Dawson emerge como uma presença marcante e emotiva, guiando o ouvinte por um álbum que, embora inspirado por ícones do passado, exibe um frescor que solidifica o NewDad como uma banda promissora no cenário indie atual.



  1. Epic45 - You’ll Only See Us When The Light Has Gone

Imagem: Reprodução/Bandcamp

Apesar de que o título possa sugerir o fim do Epic45, Ben Holton e Robert Glover estão em boa forma, maduros, criativos e trazem um disco refinado, acessível, harmônico e que eleva as qualidades da dupla.


Além disso, a experiência desses ingleses de Staffordshire também vai muito além dos inúmeros discos lançados. Fizeram turnês pelo Reino Unido, Europa e Japão. Também ganharam a confiança de renomados artistas/grupos como Babybird, Bibio e Slowdive em colaborações importantes.

 

Mas, calma, nunca é tarde então para descobrir artistas/bandas como o Epic45. Sobretudo porque o último trabalho está bem acessível, refinado, elevando a criatividade, o talento e a musicalidade do grupo.



  1. Lightning Bug – No Paradise

Imagem: Reprodução/Spotify

Mesmo que o ouvinte ainda seja apaixonado com A Color Of The Sky (2021), disco anterior da banda nova-iorquina, difícil não sentir aproximação com algumas mudanças neste novo trabalho da banda. A voz de Audrey Kang sempre refinada e contagiante, a qualidade da banda que permanece intacta e mais uma vez o repertório de canções interessantes.


‘Just Above My Head’ traz os vocais de Audrey numa melodia orquestrada com violinos ora pacíficos, ora agressivos. ‘Serenade’ ousa se embrenhar por um Trip-Hop à la Portishead. Quem adora uma pitada de Rock no caldeirão ficará confortável com ‘I Feel’, um Rock caótico cheio de vozes ecoando, composto com guitarras mais pesadas e baixo bem acentuado.



  1. Mdou Moctar - Funeral For Justice

Imagem: Reprodução

Funeral for Justice é uma das grandes surpresas culturais de 2024, destacando Mdou Moctar como uma grande força na música africana contemporânea. Serve tanto para quem quer conhecer o trabalho de Mdou Moctar quanto para quem já conhece e deseja admirar ainda mais. Suas letras politizadas e sonoridade única fazem deste álbum um marco, combinando uma presença carismática com um retrato sincero das aspirações, lutas e esperanças do povo do Níger.


É uma obra de arte que merece ser contemplada com atenção e reverência por pessoas do mundo todo.



  1. Ana Lua Caiano - Vou Ficar Neste Quadrado


E tem cantora portuguesa? Tem sim, com certeza. Ana Lua Caiano mostra irreverência, ousadia e criatividade num disco que passa pelo Trip Hop e chega até o Kraut Rock. Influenciada por Bjork e Portishead, Ana demonstra que Portugal precisa estar mais no mapa do cenário musical.


Ana Lua Caiano, apesar de nova, chega com um talento de cantora madura e experiente, deixando Portugal um pouco mais na rota de bom celeiro musical. Agora o ouvinte não pode dizer que não exista algum artista português que ele não conheça e goste. Que tal começar por essa cantora?



  1. Charly García - “La Lógica Del Escorpión”

Imagem: Reprodução

La Lógica Del Escorpión é uma adição brilhante à vasta discografia de Charly García. Embora sua voz tenha mudado com o tempo por causa de seus problemas de saúde, sua genialidade como compositor e sua capacidade de criar músicas intensas e emotivas continuam intactas.

 

O álbum é uma prova de que, apesar dos desafios da vida, a arte permanece como uma força vital e inesgotável. Charly reafirma sua posição como um dos maiores nomes do rock argentino, mostrando que o poder da música transcende qualquer limitação física, mental ou temporal.



  1. Iron And Wine – Light Verse

Imagem: Reprodução/Bandcamp

Após 5 anos sem lançar novidades, Samuel Ervin Beam (mentor do Iron And Wine) chega com um disco que contempla bastante letras que falam de aceitação e perseverança. As 10 faixas de Light verse atestam um Folk fortalecido, contemporâneo e estimulador, capaz de ganhar mais fãs pelo mundo e de ser ainda mais acessível.



  1. Norah Jones - Visions

Imagem: Reprodução.

Visions é um dos melhores discos que Norah Jones já fez em muito tempo, e isso é percebido no uso equilibrado de canções alegres, intimistas e emocionais, com o talento da artista para tocar piano de forma mágica, seu lado como compositora que mostra habilidade e versatilidade para falar de vários temas, seu lado sonoro por transitar e misturar gêneros musicais sem perder a essência, e seu vocal que segue encantando, suavizando e embelezando de uma forma acolhedora.

 

É nítido o quanto ela vai de vários extremos rapidamente, mas quando consegue chegar a níveis admiráveis e magníficos, ela se torna gigante. Ela precisava mostrar algo que soasse leve, feliz e maduro ao mesmo tempo, e isso ela consegue fazer com o uso de sua inquietude ao trazer sensações e vibrações que certamente os ouvidos, de forma alegre, jamais irão se esquecer de suas visões íntimas, líricas e musicais.



41. Beyoncé - Cowboy Carter

Imagem: Reprodução.

Com influências marcantes da música tradicional sulista dos Estados Unidos, Cowboy Carter vai além de suas raízes e se destaca como uma obra versátil e plural. Esse álbum pede uma escuta atenta e reflexiva, oferecendo uma experiência rica em camadas que mostram a maturidade artística de Beyoncé. Mais uma vez, a cantora prova que seu talento transcende rótulos, deixando para trás, há muito tempo, a ideia de ser apenas uma diva pop focada no visual.

 

Cowboy Carter desconstrói preconceitos musicais e raciais, rompendo barreiras de estilos, culturas e gêneros. A obra se posiciona tanto como um marco artístico quanto histórico, conectando o passado às questões contemporâneas de forma ousada e significativa. É um álbum que desafia expectativas e convida o público a imaginar como essa trilogia será encerrada. Por enquanto, seguimos curiosos e, sem dúvida, impressionados com seus incríveis resultados.



  1. Mark Knopfler: - One Deep River

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One Deep River destaca-se como um dos trabalhos mais profundos de Mark Knopfler, repleto de influências, poesias e memórias que contribuem para uma sonoridade aconchegante e épica. O álbum representa um marco na discografia do artista, que se mantém esplêndida, evolutiva e relevante. Em contraposição ao imediatismo atual, ouvir as músicas deste disco de forma serena proporciona uma experiência única.


Knopfler conduz essa tranquilidade de maneira magistral, criando um trabalho que convida à reflexão, à emoção e ao deleite auditivo.



  1. Yellow House – Psalms Of Yellow House

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O sul-africano Emile Van Dango repensou sua vida, se isolou numa montanha e compôs um disco que reúne atmosferas etéreas e melódicas. As canções são preenchidas criativamente por instrumentais que se sobrepõe em camadas (piano, guitarra, órgão, sintetizadores), tudo se conectando bem com os vocais de Emile.


O disco pode transitar tanto pelo etéreo aprazível do Dream Pop (a já citada Trouble Always Finds Me’) como pela poesia reflexiva e acústica do Folk (‘Comedown King’). O músico até arrisca um Soul junto ao Indie Rock em ‘Say You Will’ (com um vocal fantástico que irrompe logo nos segundos iniciais da canção).



  1. Pet Shop Boys - Nonetheless

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Pet Shop Boys é um raro caso de consistência em sua discografia, sempre evoluindo para melhor. Nonetheless se destaca como um dos melhores trabalhos da dupla, mostrando o quanto seu som é diverso, múltiplo e acolhedor para todas as pessoas, abordando temas filosóficos e sentimentais sem repetir fórmulas. Ele se apresenta como melhor que “Hotspot”, lançado em 2020, com qualidade equivalente ao “Super” de 2016, melhor que “Elysium” de 2012 e contém o nível alto de “Electric” de 2013 e "Yes" de 2009.

 

Ao final, fica a certeza de ter ouvido não apenas um dos melhores discos de 2024, mas um dos melhores trabalhos do Pet Shop Boys, um clássico que certamente será lembrado e apreciado ao longo do tempo.



  1. Arooj Aftab - Night Reign

Imagem: Reprodução.

 


A cantora paquistanesa-americana Arooj Aftab transforma o silêncio em paisagens sonoras noturnas com Night Reign, um disco que marca um dos momentos mais ousados e espirituosos de sua carreira.


Conhecida por atravessar gêneros como jazz, qawwalis sufi e folk, Aftab já havia conquistado reconhecimento global com Vulture Prince (2021), que a levou a vencer um Grammy, e com o experimental Love in Exile (2023), ao lado de Vijay Iyer e Shahzad Ismaily.


Diferente dos trabalhos anteriores, onde o silêncio era quase um personagem, Night Reign é ousado e vibrante, explorando o cenário noturno como tema central. As nove faixas mesclam texturas acústicas e eletrônicas, contrastando a suavidade característica da cantora com arranjos ricos e envolventes. O disco traz nuances que evocam a quietude da noite, mas com camadas que tornam a experiência sonora dinâmica e emocionante.


Aftab continua a surpreender ao expandir sua expressão artística, mantendo sua assinatura poética enquanto explora novos territórios musicais. Night Reign consolida a artista como uma força inovadora e essencial no panorama musical contemporâneo.



  1. Waxahatchee - Tigers Blood

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Katie Crutchfield, sob o pseudônimo Waxahatchee, retorna com seu sexto álbum, refinando a fusão de country e punk que define sua trajetória e oferecendo uma profunda reflexão sobre as nuances da existência.


Após o aclamado Saint Cloud (2020), Katie eleva seu som em seu novo trabalho, mergulhando nas complexidades da vida com letras que retratam momentos fragmentados e emoções conflitantes. O álbum é uma colagem de experiências que transitam entre a simplicidade e os dilemas intrincados de estar vivo.


Entre os destaques, Lone Star Lake sintetiza a temática do disco, com Crutchfield cantando sobre destinos aparentemente planejados, mas que frequentemente levam à desorientação: "Minha vida foi mapeada para um T / Mas estou sempre um pouco perdida." As canções exploram relações, memórias e o paradoxo da criação artística, refletindo um amadurecimento tanto lírico quanto sonoro.


Waxahatchee equilibra a energia do punk de seus primeiros discos com um country mais polido e acolhedor, suavizando as bordas em uma textura introspectiva e envolvente. O resultado é um álbum que não busca respostas definitivas, mas que celebra o emaranhado de sentimentos que moldam a experiência humana.



  1. Arab Strap - I'm Totally Fine With It Don't Give a Fuck Anymore

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Os escoceses Aidan Moffat e Malcolm Middleton possuem uma percepção atenta sobre o mundo moderno. E sabem colocar isso na música que executam. Seja em letras de cunho erótico, seja em letras de puro deboche, o Arab Strap traz coesão entre todos os elementos da Música: letras, arranjos, senso crítico e identificação com o ouvinte desses tempos.



  1. MGMT – Loss Of Life

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MGMT mostra que não foi apenas um modismo da década de 2000 e segue apostando em sua sonoridade, com muitas influências e sempre tentando se expandir, embora o princípio básico ainda seja a Psicodelia. Loss Of Life apresenta um repertório de canções criativas e que aponta para uma dupla adquirindo personalidade e maturidade.



  1. Adrianne Lenker - Bright Future

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Na faixa de abertura Real House, Adrianne Lenker desafia estruturas musicais convencionais, combinando acordes etéreos com letras associativas para explorar memórias e emoções profundamente pessoais.


Conhecida por sua habilidade lírica detalhista e musicalidade disciplinada, Lenker surpreende ao adotar uma abordagem mais livre em Real House, faixa que abre seu novo projeto. Os acordes da música pairam de forma incerta, rejeitando os caminhos previsíveis de tensão e liberação, enquanto as letras evocam imagens oníricas e associativas, criando uma atmosfera introspectiva e enigmática.


Com Real House, Lenker solidifica sua reputação como uma compositora ousada, capaz de desbravar territórios emocionais e estilísticos, oferecendo aos ouvintes uma experiência tão desafiadora quanto recompensadora.



  1. Still Corners – Dream Talk

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Com mais de 5 discos na bagagem, essa dupla continua encantando com suas melodias. Fáceis de digerir, com muitas influências e que transita por gêneros como Dream Pop, Neo-Psicodelia e New Wave/Post-Punk Revival. Dream Talk é um interessante trabalho tanto para fãs de carteirinha como para ouvintes que desejam se iniciar na sonoridade da dupla.



  1. Ride – Interplay

Imagem: Reprodução.

A banda inglesa que atravessa décadas e quase foi dada como acabada juntou sua experiência em prol de novos horizontes sonoros. Em Interplay, o Ride explora outros territórios musicais, criando uma dinâmica instrumental ainda mais ampla, abraçando influências distintas, sem repudiar o próprio passado.



  1. Clairo – Charm

Imagem: Reprodução

Em seu terceiro álbum, Charm, Clairo abraça um som mais expansivo e ensolarado, explorando temas de desejo, distância e conexão emocional com influências retrô e sensibilidade pop.


Conhecida por seu estilo minimalista de bedroom pop, Claire Cottrill, ou Clairo, dá um passo ousado em seu terceiro álbum, Charm. O projeto se afasta da contenção de Immunity (2021) e mergulha em uma abordagem mais tátil e arejada, evocando as influências da cena folk de Laurel Canyon enquanto incorpora elementos modernos de R&B e psicodelia.


Com Charm, Clairo expande seus horizontes musicais e temáticos, entregando um trabalho que combina introspecção emocional com arranjos sofisticados e acessíveis.



  1. Mercury Rev – Born Horses

Imagem: Reprodução/Bandcamp

Outra banda que também estava distante das novidades, chega com um disco que foge do comodismo e da ferrugem. A banda fez questão de trazer distintas inspirações musicais (de Tchaikovsky a The Cure) para criar belas canções apoteóticas e orquestradas, com a exclusividade de não perder as características que a tornaram famosa.



  1. The Black Crowes - Happiness Bastards

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Após todo o lirismo das faixas anteriores, a banda volta com o dinamismo do instrumental e do vocal de Chris com a rápida (em todos os sentidos) 'Dirty Cold Sun'. Já 'Bleed It Dry' é outro ponto alto do álbum, outro blues de aparência dos anos 70, dos quais seus efeitos de percussão fazem com que ela pareça uma faixa ao vivo, digna de fazer inveja até para os Rolling Stones.


As faixas que encerram o disco são a controversa 'Flesh Wound', que apesar de ter um ritmo animado, fala mais uma vez sobre feridas não cicatrizadas, que contém um instrumental riquíssimo de cordas e metais, à moda E Street Band, mais uma vez recordando o rock puríssimo com os quais artistas nos presentearam em décadas passadas.


(Texto extraído da resenha públicada em nosso portal, escrita por Thaís Sechetin)



  1. David Gilmour - Luck and Strange

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Merecidamente reconhecido como um verdadeiro mestre da melodia, David Gilmour pode ser facilmente considerado uma espécie de paradoxo de si mesmo, sendo um virtuoso que navega perfeitamente entre o sutil e o grandioso. O guitarrista é amplamente aclamado por meio de um estilo que o torna um verdadeiro arquiteto das mais belas catedrais sônicas, além de existir dentro de uma dualidade onde o simples se torna grandioso e o grandioso se desmancha em simplicidade.


Luck and Strange, 5º disco de estúdio do músico, dentro de uma musicalidade delicada e característica, oferece um trabalho lírico que ajuda refletir sobre o que constitui uma experiência genuína em um mundo saturado de superficialidade, sobre a durabilidade das conexões interpessoais, sobre encontrar significado diante da mortalidade inevitável e da incerteza que permeia a existência humana entre outros, sempre dentro de uma exploração poética e multifacetada desses temas, oferecendo momentos de reflexão profunda e introspectiva. Novamente, quase todo as letras foram escritas por Polly Samson, esposa de Gilmour.


(Texto extraído da resenha públicada em nosso portal, escrita por Tiago Meneses)



  1. The Future Is Our Way Out - Brigitte Calls Me Baby

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Com um título bem oportuno para nossa atualidade, The Future Is Our Way Out vai ganhando o ouvinte a cada faixa. Uma canção embala a outra, o disco não perde o ritmo e mantém a constância até o final. Essa pode ser a banda que muitos estavam esperando ou ansiando há tempos. Grande parte da musicalidade do grupo pode ser atribuída à formação musical eclética de Leavins, que cresceu ouvindo Roy Orbison na casa dos avós, enquanto em casa seus pais colocavam Cars para tocar, e seus amigos eram seduzidos por Radiohead e The Strokes.


Wes Leavins pode muito bem ser a nova estrela do amanhã, e o Brigitte Calls Me Baby, aquela banda que tanto faltava no cenário indie moderno, com suas referências retrô escancarando uma ode a uma época do passado, a começar pela linda capa que busca inspiração em filmes noir.



  1. St. Vincent - All Born Screaming

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St. Vincent, ou se preferir Annie Clark, é uma artista multifacetada que, no decorrer de sua carreira artística, se transformou inúmeras vezes. Ela conseguiu transitar de uma cantora tímida a uma estrela do rock, passando de uma visionária amplamente conceitual para uma autêntica diva pop. Para entender melhor essa linha de raciocínio, é como se cada novo disco marcasse uma completa reinvenção pessoal e criativa, com Vincent expandindo incansavelmente sua identidade musical e explorando novos territórios sem amarras e sem medo de experimentar novas sonoridades.


E este conceito, ou melhor dizendo, padrão, se mantém poderosamente em All Born Screaming (2024), seu primeiro trabalho produzido totalmente por ela mesma, livre da parceria com Jack Antonoff, que atuou em seus discos anteriores. Aqui, ela encontra o equilíbrio perfeito entre o experimentalismo já conhecido em sua trajetória desde o álbum homônimo de 2014 e uma busca por uma sonoridade mais pop e acessível, processo que se estabeleceu na música de Clark a partir de 'Masseduction' (2017).



  1. Vampire Weekend - Only God Was Above Us

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Uma jornada atmosférica que resulta em momentos ternos e repletos de letras introspectivas, melodias cativantes e arranjos complexos. Estes funcionam como uma viagem cósmica, explodindo inúmeras reflexões enquanto o ouvinte viaja por imensas camadas sonoras que mudam de direção a todo momento.


Não seria absurdo dizer que este pode ser o disco mais conceitual e honesto do Vampire Weekend. Nele, encontramos tudo aquilo que caracteriza o som da banda, com o que eles têm de melhor para oferecer. Ezra Koenig e seus companheiros de banda exploram todas as vertentes de suas limitações e avançam para além do convencional, explorando novas experimentações sonoras.



  1. Beabadoobee - This Is How Tomorrow Moves

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Beabadoobee reinventa o indie dos anos 90 em seu terceiro álbum produzido por Rick Rubin.

A estrela britânica combina referências das guitarras dos anos 90 com uma produção contemporânea e sofisticada.


Ela entrega uma versão modernizada do espírito das guitarras dos anos 90, consolidando sua identidade no cenário indie. O álbum mistura o DNA lo-fi e experimental da artista com arranjos melódicos e uma produção refinada que ecoa tendências atuais sem perder suas raízes.


O trabalho equilibra autenticidade e apelo comercial. Faixas como California remetem à energia de bandas como Pavement, enquanto canções mais delicadas, que conquistaram a base de fãs da artista, seguem presentes e bem representadas. Um destaque é A Cruel Affair, que combina uma sensibilidade indie com toques de bossa nova em uma narrativa sobre um relacionamento complexo.



  1. Wunderhorse – Midas

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Enquanto o álbum de estreia de Wunderhorse destacou a jornada de Jacob Slater em concretizar seu potencial como compositor, Midas eleva esse padrão com letras mais ricas e uma energia caótica que reflete a união e o amadurecimento da banda como um todo. O disco mistura força narrativa com um senso de coletividade que transparece em cada faixa.


Apesar de ser tecnicamente o segundo álbum, Midas soa como um recomeço, simbolizando a evolução de Wunderhorse de um projeto individual para um time coeso e dinâmico. Essa transformação não só solidifica a identidade da banda, mas também deixa claro que seu futuro é promissor.



  1. Bill Ryder Jones – Iechyd Da

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Com produção impecável e um toque de experimentação, Ryder-Jones entrega um álbum que combina influências da Motown, pop dos anos 60 e até um coral infantil, resultando em uma obra esmagadoramente adorável e cheia de resiliência.


Um destaque especial é We Don’t Need Them, onde o uso de um coral infantil transforma o que seria um hino de isolamento em uma celebração de união e sobrevivência. A harmonia das vozes adiciona camadas emocionais à música, amplificando a mensagem de superação presente em todo o álbum.



  1. Sprints - Letter to Self

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Desde sua formação em 2019, o Sprints ganhou destaque com uma sequência de singles e EPs curtos, caracterizados pelos vocais secos e irônicos da compositora e guitarrista Karla Chubb. Agora, com Letter to Self, a banda amplia sua abordagem para explorar o poder transformador da raiva.


Faixas como Ticking e Heavy destacam guitarras aceleradas e uma distorção densa, convertendo medos e ansiedades em pura energia, perfeita para um intenso headbanging. Projetado para ser ouvido no volume máximo, Letter to Self não apenas expressa a intensidade emocional de seus criadores, mas também convida os ouvintes a compartilharem dessa jornada catártica.



  1. Kim Gordon - The Collective

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O álbum mantém até o fim as batidas e a atmosfera sufocante, contudo aumentando mais um pouco o volume: 'Tree House' aposta menos na batida e mais em barulho cru, de sons agudos e microfonia, 'Shelf Warmer' é uma faixa que mantém sua linha de versos mais declamados do que cantados, emendando com a única música do álbum onde você pode identificar alguns riffs, a longa 'The Believers' e encerrando com a frenética 'Dream Dollar', novamente nos mostrando toda a  nossa obsessão pelo supérfluo, e o quanto parecemos robôs repetindo os mesmos termos, alienados.


Quando achamos que o álbum termina de maneira abrupta, Kim surpreende novamente nos brindando com mais alguns segundos de barulho, para só depois disso, a gente poder sentar no chão, sem reação sobre tudo o que não vamos conseguir assimilar de imediato. Foi exatamente nesse lugar que 'The Collective' nos colocou.


(Texto extraído da resenha publicada em nosso portal, escrita por Thaís Sechetin)



  1. The Smile - Wall of Eyes

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A grande charada de 'Wall of Eyes' se resume ao desafio. Assim como o Radiohead desafiou as convenções da música, o The Smile também se propõe a desafiar e enfrentar o próprio Radiohead. Você se torna cada vez mais responsável por aquilo que cativa, e não é muito diferente com as coisas que você propõe a desafiar. Pode ser o início de uma nova revolução sonora evolutiva de tudo aquilo que Yorke fez no passado, com discos imortalizados através do tempo.


A satisfação diante disso tudo é que essa busca e jornada podem despertar ótimos sorrisos pelo caminho. Mas é sempre bom lembrar que aquilo que é desafiado tende a perdurar e se tornar eterno.



  1. Amyl and The Sniffers - Cartoon Darkness

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Com sua energia descontrolada, palavrões e uma presença de palco explosiva, Amyl and the Sniffers retorna com um álbum que, à primeira vista, parece seguir a fórmula habitual. No entanto, ao longo das faixas, a banda australiana revela nuances inesperadas, adicionando novas dimensões ao seu som.


A introdução de um violão acústico na nona faixa, um momento raro e surpreendente, demonstra a disposição do grupo em explorar territórios musicais além de sua assinatura punk frenética. "Foi um experimento que nos permitiu mostrar um lado diferente, mas sem perder a essência", comentou Amy Taylor em recente entrevista.


Além das mudanças sonoras, o álbum mergulha em preocupações líricas mais profundas, abordando questões emocionais e sociais com uma sensibilidade que complementa o caráter provocador da banda.



  1. DIIV - Frog In Boiling Water

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Após cinco anos de silêncio, a banda DIIV retorna, abordando tensões internas e ansiedades contemporâneas em um trabalho que reflete frustrações pessoais e coletivas, carregado de intensidade e introspecção.


Desde o lançamento de Deceiver em 2019, o DIIV enfrentou um longo período de hiato, pontuado por turbulências internas e transformações. O vocalista Zachary Cole Smith lidou com desafios pessoais, incluindo duas passagens pela reabilitação, enquanto a banda sofreu um rompimento parcial após a saída de Devin Ruben Perez em 2016, devido a declarações polêmicas feitas online.


O novo projeto capta esse período de tensão e renascimento, com composições que exploram temas de ansiedade moderna e desconfiança. Smith apresenta letras impregnadas de críticas sociais, evocando imagens que ecoam os receios contemporâneos. Em uma mistura de melancolia e resistência, ele questiona as dinâmicas de poder e o papel do indivíduo na sociedade, como destacado em trechos que satirizam conceitos de "bons cidadãos" e os "vilões rotativos que lucram com o sofrimento".


A banda retorna às suas raízes de guitarras expressivas, com faixas que equilibram melodia e caos. A música Frog, por exemplo, sintetiza esse estado de fragmentação emocional, transformando estresse em uma explosão sonora catártica que evoca o som de uma panela de pressão.


  1. MJ Lenderman - Manning Fireworks

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MJ Lenderman, conhecido por suas letras ácidas e despretensiosas, transforma o ordinário em poesia, unindo humor, introspecção e solos de guitarra marcantes em seu novo disco Manning Fireworks.


Com um estilo que reflete sua vida cotidiana, Lenderman apresenta composições que são tanto confessionais quanto acessíveis. Em entrevista ao The Guardian, ele revelou algumas de suas peculiaridades: gosta de tocar Guitar Hero, explorar o Instagram e ocasionalmente mergulhar em podcasts excêntricos, como aqueles que debatem métodos alternativos de saúde. Vale audição.



  1. Laura Marling - Patterns in Repeat

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Em Patterns in Repeat, Laura Marling entrega um álbum intimista, gravado em casa, que reflete a serenidade e os desafios da maternidade, resultando em um dos trabalhos mais importantes de sua carreira.


Embora faixas como Child of Mine , No One's Gonna Love YoNo One's Gonna Love You Like I Can e Lullaby parecemm, à primeira vista, centralizar a maternidade, a conexão com o tema vai além das letras: o ambiente doméstico e a simplicidade assumem o papel de moldura emocional para o disco. Desde a introdução de Child of Mine, com arrulhos de bebê e conversas casuais, Marling constrói um universo onde o íntimo se torna universal.


  1. Cindy Lee - Diamond Jubilee

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O mais recente álbum de Cindy Lee transcende o convencional, oferecendo uma experiência única que mistura nostalgia e experimentalismo em um espectro sonoro enigmático e fascinante.


Lee entrega um trabalho que desafia definições, transformando seu álbum em uma estação de rádio imaginária onde memórias distorcidas e novas interpretações se encontram. Cada faixa parece uma transmissão de um submundo do rock'n'roll, repleto de ecos de clássicos que nunca existiram e de harmonias que evocam girl groups dos anos 1960, como as lendárias -ettes ou -elles.


As combinações de sons desafiam a lógica: sintetizadores que zumbem como insetos por pedais de distorção, baladas emocionantes que parecem fragmentos de outra era e camadas de vozes que orbitam em torno de melodias melancólicas. Este álbum não apenas entrega músicas, mas cria um espaço imersivo, onde o passado e o presente coexistem em uma dança fantasmagórica.



  1. Michael Kiwanuka - Small Changes

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Michael Kiwanuka, vencedor do Mercury Prize com seu aclamado álbum Kiwanuka (2019), retorna com Small Changes, seu quarto trabalho de estúdio. Após um período longe dos holofotes, marcado por sua mudança para a costa sul do Reino Unido e pela chegada de dois filhos, o cantor de 37 anos apresenta um disco que reflete calma e maturidade, afastando-se da grandiosidade épica de seus trabalhos anteriores.



  1. Magdalena Bay - Imaginal Disk

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O segundo álbum de Mica Tenenbaum e Matthew Lewin é uma experiência musical rica e conceitualmente provocativa, subvertendo o otimismo do pop com camadas de cinismo e paranoia. A dupla de Los Angeles apresenta em Imaginal Disk uma reinterpretação ousada do gênero pop, distorcendo suas características otimistas para refletir uma realidade contemporânea mais sombria.


Com letras afiadas e produção inovadora, a dupla desafia os ouvintes a enxergar além das superfícies reluzentes do pop, explorando temas de desconexão, evolução e a constante tensão entre otimismo e paranoia. Imaginal Disk não é apenas um álbum, mas uma jornada sonora e conceitual para os corajosos.



  1. Beth Gibbons - Lives Outgrown

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O disco nos entrega dez faixas incríveis e bem harmonizadas que funcionam em sintonia, e cada uma delas se destaca através de meticulosas camadas que vão entregando pouco a pouco os elementos. Seja os doces acordes dos instrumentos de cordas, que se revelam em doses suaves, como se tudo tivesse sido planejado e trabalhado com muito cuidado e muito poder poético para contrastar com a urgência da contextualização central da obra: a relação com a morte. E a outra parte fica por conta da voz de Gibbons, que ecoa na alma do ouvinte. Esse equilíbrio é algo feito de maneira primorosa no álbum.



  1. Billie Eilish - Hit Me Hard And Soft

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Hit Me Hard And Soft já entrega sua forte contextualização logo de início, fazendo uma representação sombria sobre a fama e o estrelato na adolescência em um mundo repleto de questionamentos, preconceitos e achismos midiatizados pela polarização das redes sociais. "Skinny" deixa a entender uma certa preocupação com a recepção desse novo trabalho, com versos onde Billie canta com sua voz melódica algo sobre “Estou agindo de acordo com minha idade agora?” Ela questiona em voz alta. “Já estou de saída?


Ao criar algo lírico e profundo nesse momento da vida, como se fosse um reflexo no próprio espelho, Eilish vai ressoar não somente nela, mas em inúmeros corações apaixonados por música pop.



  1. Father John Misty - Mahashmashana

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Joshua Tillman, conhecido por seu alter ego Father John Misty, apresenta uma nova faceta em ‘Mahashmashana’, seu mais recente trabalho que se inspira no termo sânscrito “grande campo de cremação”. A obra, permeada por psicodelia suave e tons reflexivos, representa uma ruptura com sua obsessão pela cultura pop moderna, substituída por um sincero engajamento espiritual e uma busca por significado.


A faixa-título, uma balada épica de nove minutos, destaca a mudança, trazendo cordas elaboradas e poesia surreal que evocam “o próximo amanhecer universal”. Misty também revisita experiências pessoais, como no lounge ‘Josh Tillman and the Accidental Overdose’, onde reflete sobre sua relação com a celebridade e revela momentos de vulnerabilidade: “Naquela época, publicamente / Eu estava tratando ácido com ansiedade / Eu estava mal.”



  1. Jessica Pratt - Here in the Pitch

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Jessica Pratt já conquistou admiradores por suas letras enigmáticas, seu violão de cordas de náilon e sua voz delicada. No entanto, limitar sua música ao gênero folk seria uma simplificação injusta. Em Here in the Pitch, Pratt apresenta composições que desafiam descrições tradicionais, como fragmentos de sonhos que, embora não levem a um destino claro, evocam emoções profundas e reflexões quase terapêuticas.


O álbum oferece a oportunidade de explorar uma paisagem sonora misteriosa e introspectiva, algo que Pratt domina com habilidade ímpar. É uma obra que pede ao ouvinte para desacelerar, absorver as nuances e encontrar beleza na melancolia das melodias e nas letras que deixam mais perguntas do que respostas.



  1. Kim Deal - Nobody Loves You More

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Após anos à frente de projetos marcantes como Pixies e The Breeders, Kim Deal apresenta Nobody Loves You More, uma coleção de músicas que ela desenvolveu ao longo de 14 anos. Longe de soar como uma reintrodução, o álbum celebra sua trajetória por meio de colaborações com artistas como Steve Albini, Josh Klinghoffer e seus colegas do The Breeders.


O disco se destaca pela variedade de texturas sonoras, iniciando com a cinematográfica faixa-título, marcada por arranjos de cordas e metais que evocam temas de filmes de James Bond. Entre os momentos mais íntimos, ‘Are You Mine’ revisita a história da mãe de Deal, que sofria de Alzheimer, em uma balada mágica e introspectiva. Já a energética ‘Disobedience’ traz um espírito triunfante, com letras que reafirmam sua postura poderosa: "Estou com calor / Estou queimando."



  1. Nilüfer Yanya - My Method Actor




Em seu terceiro álbum, My Method Actor, Nilüfer Yanya adota uma abordagem intimista, focando em sentimentos e identidades que atravessam sua vida e carreira.


Para criar My Method Actor, Nilüfer Yanya optou por um processo de produção minimalista. Trabalhando exclusivamente com o produtor Will Archer, parceiro de longa data desde seu álbum de estreia Miss Universe (2019), a cantora britânica desenvolveu um trabalho que simplifica os arranjos, mas amplifica as emoções.


O conceito do álbum gira em torno das transições e múltiplas identidades que as pessoas assumem ao longo da vida, particularmente o contraste entre a persona artística e a pessoa real. “Espere, estou indo para suas / Complicações / Suas mutações”, reflete Yanya em Mutations, uma das faixas que exemplifica essa dualidade.


A capa do disco, com a artista encarando seu reflexo no espelho, encapsula o tema central: um mergulho introspectivo que expõe a luta entre autenticidade e performance. Essa narrativa, somada à sonoridade reduzida mas cativante, consolida Yanya como uma das vozes mais intrigantes da música contemporânea.



  1. Mount Eerie - Night Palace

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Phil Elverum, sob a alcunha de Mount Eerie, entrega um de seus trabalhos mais intensos com Night Palace, um álbum composto por 26 faixas que transformam cenas cotidianas em experiências sonoras avassaladoras.


Diferente de trabalhos anteriores, como Lost Wisdom Pt. 2 (2019), em colaboração com Julie Doiron, Night Palace adota uma postura mais feroz. Desde a faixa-título introdutória, fica evidente a mudança: guitarras tomam o protagonismo, enquanto a voz de Elverum alterna entre momentos de suavidade e gritos arrebatadores, como na visceral Swallowed Alive.


Mesmo com a intensidade dos arranjos, há espaço para a fluidez melódica, como em I Saw Another Bird, evidenciando o equilíbrio entre força e delicadeza. Com isso, Night Palace se consolida como mais uma prova do talento de Elverum em transformar o ordinário em grandioso, reafirmando sua relevância no cenário musical.



  1. Fontaines D.C. - Romance

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A sonoridade do Fontaines DC parece que sempre evocou elucidar aquelas questões que vivem a martelar na alma. Com letras líricas e potentes, o quinteto de Dublin explodiu no cenário da cultura pop em 2019 com o explosivo e gritante ‘Dogrel’, com inúmeras paisagens delirantes forjadas por guitarras estridentes e aquele vocal distinto e único de Grian Chatten.


Acontece que o grupo foi evoluindo e expandindo seus horizontes sonoros a cada disco. As letras de Chatten foram ganhando cada vez mais aquele delírio e sentimento arrebatador sobre essa jornada chamada vida. Isso parece ter se intensificado e ganhado ainda mais força e expressividade no quarto disco da banda, ‘ROMANCE’, um disco que pode soar um pouco estranho para alguns e convidativo para outros. O fato é que o Fontaines transita perfeitamente pela ambientação pós-punk e explora ainda mais suas limitações e processo criativo.


Eles não temem o tempo de experimentar, e Chatten parece desbravar o disco e a dualidade do título. Você já parou para pensar como o amor pode ser uma coisa boa, mágica e, ao mesmo tempo, devastadora, como se aquele desejo terno e saboroso fosse lentamente se transformando em algo debilitante? Já vimos algo parecido lá atrás com Ian Curtis, do Joy Division. Existe uma certa semelhança entre Ian e Chatten: a forma de cantar, aquele canto que parece surgir da alma e suas dores, e até mesmo o jeito de se comportar em cima do palco.




  1. The Cure - Songs of A Lost World

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Longos 16 anos foi o tempo de gestação para o The Cure dar à luz/vida a Songs of a Lost World, um disco que abre um diálogo aberto, sincero e honesto sobre a vida, sobre o tempo, sobre a euforia de ser jovem e compreender que o tempo passa para todos. Os efeitos da velhice têm seus meios próprios para tocar cada alma.


Songs of a Lost World, apesar de conter apenas 8 faixas, não é rápido nem ligeiro; é um disco lento e paciente. Não que o Cure tenha deixado de ser punk e enérgico: toda a atmosfera gótica, sombria e saborosa da banda está presente em cada uma das faixas. Porém, o tempo passa, a velhice chega, e você não precisa digerir tudo com voracidade. Essa liberdade de Robert Smith e cia. de sentir a vida, as emoções e a tristeza com uma maturidade atingida pelos anos e experiências de vida soa realmente atraente e sedutora.


Talvez a vida seja assim, como uma canção de Songs...: conforme vamos envelhecendo, passamos a sentir a tristeza de outra maneira. Pessoas chegam, pessoas se vão, e cada uma delas deixa uma marca registrada em algum canto da alma. Passamos, então, a conversar com a tristeza em outras linguagens, pois já não ficamos tristes pelos mesmos motivos de quando éramos jovens. Boys Don’t Cry? A tristeza sempre foi um sentimento, um espírito genuíno, constante e necessário na vida.



  1. Charli XCX - Brat


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Ouvir Brat, sexto e novo álbum da multifacetada Charli XCX, é navegar por um mar de sonoridades que elevam o pop atual a outro universo sonoro. E, se a música pop representa um reflexo no espelho de sua era, do seu tempo, o novo trabalho da cantora encapsula perfeitamente essa ânsia e imperfeições geradas por um mundo virtual. Um disco de canções dançantes que transforma essa nossa ansiedade digital em arte memorável; são músicas gostosas de ouvir, ao mesmo tempo que abrem leques de reflexões sobre essa hiperconectividade em nossas vidas.


Ao mesmo tempo, é possível perceber uma certa conectividade de Charli com essa tradição de artistas que desafiam a cena mainstream, como Björk e Arca. Porém, em Brat, ela faz isso de maneira acessível. O álbum é dançante, mas introspectivo; provocador, mas viciante. Ela consegue equilibrar perfeitamente o hedonismo da música pop com uma profundidade que nos convida a pensar.


Entre as 15 faixas do disco, o ouvinte vai navegar por uma onda que explora os limites do hyperpop, do electroclash e até mesmo do punk digital, sempre provocando o público que consome essas contradições e excessos das redes sociais. A faixa "360", que abre o trabalho lembra muito as raves que eram realizadas nos anos 90, com uma melodia catártica e pulsante.


Mas venhamos e convenhamos, a inovação e a introspecção nunca são tarefas tão simples, sempre são acompanhadas de uma certa turbulência elegante e emocional. No entanto, é incomum vê-las executadas com tamanha maestria em todos os outros aspectos. Brat reafirma Charli no topo como uma força criativa no pop, consolidando sua posição de pioneira — não que ela tenha vacilado em algum momento.



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