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Foto do escritorMarcello Almeida

30 anos de The Bends, do Radiohead: um divisor de águas na trajetória da banda



Foi aqui que o Radiohead começou a moldar o futuro da música, um futuro que ainda sentimos até hoje

Radiohead
Imagem: Reprodução/ Reddit

Se a tão temida sindrome do segundo disco existe, ela passou bem longe do Radiohead. Após um sucesso com o mega hit "Creep", apresentado em Pablo Honey (1993), o grupo liderado por Thom Yorke queria se livrar do rótulo de “one-hit wonder”, ou melhor dizendo banda de um hit apenas.


Em março de 95, nasceu o segundo filho da banda, The Bends, o disco que marcaria o início de uma trajetória incrível e revolucionária. Com este trabalho, o quinteto de Oxfordshire apresentou uma obra muito mais madura, explorando temas introspectivos, arranjos melódicos ricos e uma profundidade emocional que começava a se tornar sua marca registrada. Sabe aquelas canções oriundas lá do fundo da alma? Pois é, isso define The Bends e tudo o que a banda faria a seguir.


Em um perído onde o cenário alternativo era marcado pela ascensão do britpop, comandado por bandas como Oasis e Blur, e pela persistência do grunge no contexto global. The Bends era um peixe fora dagua, não se encaixava completamente em nenhum desses gêneros. O Radiohead, ao invés de seguir tendências, trilhou um caminho próprio, combinando letras existenciais com camadas instrumentais complexas. Essa decisão os colocou à parte da cena britânica, consolidando sua identidade como inovadores em vez de seguidores.


Produzido por John Leckie, conhecido por seu trabalho com bandas como The Stone Roses, The Bends também contou com a coprodução de Nigel Godrich, que mais tarde se tornaria colaborador permanente da banda. A gravação foi um tanto desafiadora, com a pressão do mercado e as expectativas sobre o segundo disco crescendo. Apesar disso, o resultado final foi uma obra coesa, equilibrando baladas melancólicas e explosões de energia. Com 12 faixas, o disco conseguiu capturar as inseguranças e aspirações de uma geração em transição para o novo milênio.



A evolução da banda já fica clara com a linda faixa de abertura, "Planet Telex", uma canção que se abastece de uma batida eletrônica e guitarras etéreas. A canção é um convite para mergulhar em um mundo de caos e alienação. Escrita durante uma noite de bebedeira, ela simboliza a espontaneidade criativa que permeia o álbum. “High and Dry”, uma balada linda e introspectiva, revela muito da vulnerabilidade emocional de Thom Yorke. Isso é nítido tanto na letra quanto em sua maneira de cantar. Talvez seja por isso que a música pegou muita gente e deixou o coração na mão.


“Fake Plastic Trees” é, talvez, o coração e a alma de The Bends. Inspirada pela superficialidade da cultura moderna, a canção combina letras poéticas e uma melodia crescente que culmina em um clímax devastador. Sua gravação foi tão intensa que Yorke teria chorado após gravar os vocais principais. A faixa se tornou um dos hinos do Radiohead, representando perfeitamente sua habilidade de capturar a fragilidade humana em música.


Outro destaque é “Just”, uma faixa explosiva que se destaca pelas guitarras ferozes de Jonny Greenwood e pela intriga lírica. A música, cuja letra foi descrita por Yorke como uma competição de “quem consegue ser mais cruel”, reflete um senso de desconforto e paranoia que permeia o álbum. O videoclipe enigmático que acompanha a canção também ajudou a consolidar a identidade visual e artística da banda.



Embora inicialmente The Bends tenha sido ofuscado pelos lançamentos de outros nomes do britpop, a obra foi ganhando reconhecimento ao longo do tempo. Críticos passaram a perceber o álbum como um ponto de virada não apenas para o Radiohead, mas para a música alternativa como um todo. Hoje, é amplamente considerado um dos melhores álbuns dos anos 90, um precursor do que viria a ser a grandiosidade experimental de OK Computer e Kid A.


Seu desfecho com a emotiva “Street Spirit (Fade Out)” escancara toda a aura melancólica e deixa aquele spoiler do que viria a seguir. A canção foi inspirada pelo romance The Famished Road, de Ben Okri, e por elementos do pós-punk de bandas como Joy Division. A música apresenta uma melodia repetitiva e etérea, com arpejos de guitarra que parecem ecoar em um vazio infinito. A letra, segundo o próprio Thom, é um reflexo sombrio da inevitabilidade da mortalidade, o que confere à faixa uma carga sentimental quase esmagadora. Sua delicadeza e profundidade encerram o disco em um tom de resignação e beleza, reforçando a dualidade do Radiohead: uma banda que explora o peso da existência enquanto encontra formas poéticas de expressá-lo.



The Bends foi mais do que um segundo disco de uma banda promissora. Ele representou a transição do Radiohead de uma banda comum para uma das mais criativas e influentes do mundo. Trinta anos depois, as canções do álbum ainda ressoam profundamente, tanto pelas suas qualidades e detalhes sonoros quanto pela relevância sentimental que transcende gerações. Revisitar The Bends é testemunhar o momento em que o Radiohead começou a moldar o futuro da música, um futuro que ainda sentimos hoje.


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